quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Viés do sobrevivente: aprendendo com os que fracassaram

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Durante a segunda guerra mundial os Estados Unidos criou a Divisão de Estatística do Serviço de Guerra. Um dos trabalhos desta divisão era analisar os aviões de combate danificados que voltavam da guerra. Eles estudavam onde os aviões tinham sido atingidos e faziam recomendações sobre onde deveriam ser adicionados blindagens ou reforços para tornar os aviões mais resistentes. A imagem abaixo ilustra o resultado que eles encontraram nos aviões que voltavam

Viés

Os militares precisavam saber onde os aviões foram atingidos para que pudessem ser reparados e melhorados. Como era muito caro reforçar a blindagem em todo o avião, Inicialmente, o reforço na blindagem era feitas nas áreas em que haviam sido atingidas. No entanto, um matemático chamado Abraham Wald apontou que essa abordagem não era adequada.

Abraham Wald nasceu em 1902, na Romênia, e se tornou um matemático estadunidense conhecido por suas contribuições à teoria da decisão e à estatística aplicada. Na análise dos aviões ele propôs que essa abordagem estava sujeita ao viés do sobrevivente.

Wald argumentou que os militares deveriam examinar os aviões que não retornaram dos combates, pois esses aviões foram atingidos em áreas mais vulneráveis, que precisavam ser reforçados. Ao contrário do que muitos pensavam, as áreas que não foram atingidas nos aviões que retornavam dos combates eram as áreas que precisavam ser melhoradas, pois os aviões que foram atingidos nessas áreas não sobreviveram e, portanto, não estavam disponíveis para serem examinados.

Em outras palavras, os danos que que os aviões apresentavam ao retornar eram menos relevantes do que os que eles não apresentavam. A proposta foi colocada em prático e fez-se o reforço das área que não chegavam danificadas, principalmente na cabine do piloto e na região dos motores. Após as melhorias, alguns aviões começaram a retornar com danos nestas regiões.

O viés do sobrevivente é uma tendência natural para se concentrar nas histórias dos que sobreviveram a um evento e esquecer aqueles que não sobreviveram.

Os vieses podem ser influenciados por diversas características, como experiências anteriores, crenças pessoais, cultura, valores, emoções, entre outros fatores. Eles podem levar a erros de julgamento, equívocos e decisões inadequadas.

Os vieses são comuns em diversas áreas da vida, incluindo a política, a economia, a psicologia, a saúde, entre outras. Existem diversos tipos de vieses de interpretação que podem afetar a tomada de decisões e análises de dados. A seguir, detalharemos os principais deles:

  • Viés de confirmação: é a tendência de procurar, interpretar e lembrar informações que confirmem nossas crenças existentes. Esse viés pode levar a conclusões falsas, pois as pessoas podem ignorar informações que contradigam suas crenças.
    Uma pessoa que acredita que a vacinação é perigosa pode pesquisar apenas informações que confirmem essa crença, ignorando informações que apontem para a segurança e eficácia da vacina.
  • Viés de disponibilidade: é a tendência de julgar a probabilidade de um evento com base na facilidade com que exemplos desse evento vêm à mente. Esse viés pode levar a conclusões enganosas, pois eventos raros ou pouco conhecidos podem ser subestimados ou ignorados.
    Uma pessoa pode achar que voar de avião é perigoso, pois é mais fácil lembrar de acidentes de avião que foram amplamente divulgados pela mídia, apesar de ser um meio de transporte mais seguro do que dirigir um carro.
  • Viés de ancoragem: é a tendência de se concentrar em um único ponto de referência ao tomar decisões. Esse viés pode levar a decisões não ideiais, pois as pessoas podem ficar presas a uma ideia inicial ou ponto de referência que pode não ser relevante ou preciso.
    Um negociador que recebe uma oferta inicial baixa pode ficar preso a esse número, mesmo que seja muito abaixo do valor justo do objeto negociado, dificultando as negociações.
  • Viés do sobrevivente: é a tendência de se concentrar apenas nas pessoas ou coisas que sobreviveram a um determinado evento, ignorando aquelas que não sobreviveram. Esse viés pode levar a conclusões falsas ou enganosas sobre a probabilidade de sucesso ou fracasso de algo.
    Uma pessoa pode achar que ter um negócio próprio é sempre um caminho para o sucesso, ignorando os muitos empresários que falharam em seus empreendimentos e fecharam as portas.
  • Viés de grupo: é a tendência de conformidade com as opiniões ou comportamentos de um grupo, mesmo que isso esteja em conflito com as crenças ou valores pessoais. Esse viés pode levar a decisões ruins ou moralmente questionáveis.
    Um membro de um grupo pode sentir pressão para conformar suas opiniões ou comportamentos com os do grupo, mesmo que não concorde com eles.
  • Viés de retrospectiva: é a tendência de acreditar que um evento era previsível ou esperado depois que ele ocorreu. Esse viés pode levar a uma visão distorcida da realidade, pois as pessoas podem superestimar sua capacidade de prever eventos futuros.
    Após um grande evento, como uma eleição ou um desastre natural, as pessoas podem dizer que previram o resultado, quando na verdade não fizeram previsões precisas.
  • Viés da representatividade: é a tendência de julgar a probabilidade de um evento com base em sua semelhança com um modelo ou estereótipo previamente formado. Esse viés pode levar a conclusões enganosas, pois as pessoas podem ignorar informações relevantes que não se encaixam em seus modelos mentais.
    Uma pessoa pode achar que uma pessoa vestida de forma desleixada e com aparência desleixada é automaticamente um criminoso ou sem emprego, ignorando o fato de que a aparência não é uma indicação confiável da personalidade ou das circunstâncias financeiras de uma pessoa.

No contexto da pesquisa científica, um viés pode ocorrer quando há uma tendência para escolher ou interpretar dados de forma a confirmar uma hipótese preconcebida ou para minimizar ou ignorar informações que não se encaixam nessa hipótese.

No contexto empresarial, o viés do sobrevivente pode ser observado quando se estuda apenas as empresas bem-sucedidas e se ignora as que fracassaram. Isso pode levar a conclusões falsas sobre o que é necessário para ter sucesso nos negócios e ignorar importantes fatores que contribuem para o fracasso.

A maioria dos livro de auto ajuda, pessoal ou empresarial, procuram documentar o que é necessário para o sucesso, olhando para os sobreviventes e propondo a reprodução dos seus comportamentos, mas olhando para nosso avião alvejado, a percepção do sucesso seria a de ser capaz de sobreviver levando tiros nas asas e nos estabilizadores, mas as vezes passa despercebido que um único tiro no piloto ou motor, é capaz de derrubar o avião independente de todo o resto.

Afinal, é melhor acertar nas mesmas coisas que poucos vencedores acertaram, ou não errar nos mesmos pontos que levou uma grande maioria a perder?

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Gustavo Nunes
Gustavo Nunes
Gustavo Nunes é estudioso das inovações tecnológicas e assuntos aleatórios.

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