Pesquisas em Sergipe têm transformado a casca do coco verde, um resíduo urbano significativo da capital Aracaju, em biocarvão e biocombustível, com aplicações diretas na agricultura sustentável e na geração de energia renovável. Tais inovações, desenvolvidas por instituições como o Instituto Tecnológico e de Pesquisas do Estado de Sergipe (ITPS) e o Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP), demonstram a integração entre ciência, sustentabilidade e inovação.
A produção de biocarvão no ITPS é liderada pela engenheira florestal Daniele Vieira Guimarães, especialista em Ciência do Solo. A técnica utilizada envolve a pirólise da casca do coco verde, que processa o resíduo vegetal em um material denso em carbono, promovendo benefícios significativos como aumento do pH do solo, retenção de umidade e melhoria na disponibilidade de nutrientes. Além disso, essa abordagem ajuda a reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
Resultados positivos foram observados com o uso do biocarvão, que mostrou desempenho superior em relação a fertilizantes comerciais, como o NPK 10-15-10, em termos de crescimento das plantas e produção de clorofila. O processo é ambientalmente amigável, já que evita a utilização de água e a geração de resíduos líquidos.
Para facilitar a adoção do biocarvão, o ITPS elaborou uma cartilha voltada para cooperativas e agricultores familiares, visando disseminar o uso desse insumo natural em pequenas propriedades e, assim, aumentar a produtividade de maneira sustentável.
Técnicas ancestrais e aplicações modernas
A inspiração para a aplicação do biocarvão provém das Terras Pretas de Índio, solos férteis da Amazônia que foram enriquecidos com carvão vegetal durante séculos. Modernamente, o biocarvão atua como um condicionador de solo, promovendo a fixação de carbono e aumento da retenção de nutrientes e água.
O processo de transformação da casca do coco verde envolve secagem, trituração e aquecimento em condições anaeróbicas. O resultado é um biocarvão que pode ser ativado com compostos orgânicos, oferecendo propriedades semelhantes ao húmus, mas com maior estabilidade.
A procura por soluções sustentáveis no setor agrícola é crescente. Embora a tecnologia ainda não esteja formalmente implantada em Sergipe, já há interesse manifestado por produtores de São Paulo, que buscam construir fornos artesanais para a produção de biocarvão. O ITPS está em busca de parcerias com instituições de extensão rural para promover essa prática em nível regional.
Produção de biocombustível a partir da fibra do coco
No Instituto de Tecnologia e Pesquisa, o foco mudou para a produção de biocombustível a partir da fibra da casca do coco verde. O coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas Coloidais (Nuesc), Cláudio Dariva, explicou que a fibra é convertida em bio-óleo e, posteriormente, refinada para gerar combustíveis renováveis como gasolina e diesel.
Este projeto, atualmente em fase de ampliação para alcançar uma produção em escala, visa aproveitar uma grande quantidade de resíduos gerados em Aracaju, evitando a degradação ambiental causada pelo descarte inadequado.
Avanços da economia circular
As iniciativas em Sergipe não apenas geram benefícios ambientais e produtivos, mas também promovem a economia circular ao transformar resíduos em recursos valiosos, criando empregos e renda local. A região Nordeste, responsável por 75% da produção nacional de coco verde, possui grande potencial para implementar e expandir essas soluções.
Sergipe, com sua produção concentrada em municípios como Estância, Indiaroba e Itaporanga d’Ajuda, mostra viabilidade para as aplicações desenvolvidas, contribuindo para um futuro mais sustentável.