No setor de espaço e astronomia, 2022 será um ano difícil de superar.
A Nasa nos impressionou com cenas cósmicas capturadas pelo Telescópio Espacial James Webb. A missão Dart desviou um asteroide para uma nova órbita. Artemis I colocou a humanidade no rumo de volta à lua. A China terminou a construção de uma nova estação espacial em órbita. A SpaceX lançou e pousou 61 foguetes em 12 meses. E a invasão da Ucrânia colocou em perigo a posição da Rússia como potência espacial.
É muita coisa para ser superada, mas 2023 certamente terá alguma emoção na plataforma de lançamento, na superfície lunar e no céu.
Novos pousos lunares
Pelo menos uma tentativa de pouso lunar está garantida para 2023. A empresa japonesa Ispace lançou sua missão M1 num foguete SpaceX em dezembro. A nave está seguindo uma rota lenta e econômica até a lua e deve chegar em abril, quando tentará implantar um veículo construído pelos Emirados Árabes Unidos e um robô feito pela agência espacial japonesa, Jaxa, além de outras cargas úteis.
Poderá haver mais cinco tentativas de pouso lunar este ano. A Nasa contratou duas empresas privadas para transportar cargas para a superfície lunar. Ambas, a Intuitive Machines, de Houston, e a Astrobotic Technology, de Pittsburgh, enfrentaram atrasos em 2022, mas poderão fazer a viagem nos próximos meses.
Elas poderão ser acompanhadas de missões lunares de programas espaciais de três governos. A missão Chandrayaan-3 da Índia foi adiada no ano passado, mas pode ficar pronta em 2023. Uma missão japonesa, Smart Lander for Investigating Moon, ou Slim, visa testar as tecnologias de pouso lunar do país. Finalmente, a missão Luna-25 da Rússia foi adiada de setembro, mas a agência espacial Roscosmos poderá tentar este ano.
Novos foguetes
A Nasa tirou do chão seu gigantesco Sistema de Lançamento Espacial pela primeira vez em 2022, iluminando a noite da Flórida com um incrível fluxo de chamas enquanto carregava a missão Artemis I em direção à lua. Isso chamou a atenção para a SpaceX, que está construindo o foguete de última geração Starship, que também é fundamental para a tentativa de pouso na lua tripulado Artemis III, da Nasa.
A SpaceX liberou uma importante revisão ambiental que lhe permitiria lançar um voo de teste orbital não tripulado do sul do Texas, caso preenchesse certas condições. Mas o foguete não ficou pronto em 2022. A empresa ainda não anunciou uma data para teste este ano, mas testes regulares em solo do equipamento Starship indicam que ela está trabalhando nisso.
Vários outros foguetes poderão voar pela primeira vez em 2023. O mais importante, o Vulcan Centaur, da United Launch Alliance, substituirá o Atlas V dessa empresa, um veículo central para os voos espaciais americanos durante duas décadas. O Vulcan conta com o motor BE-4 construído pela Blue Origin, empresa de foguetes fundada por Jeff Bezos.
Espera-se que várias empresas privadas americanas testem novos foguetes em 2023, incluindo Relativity e ABL. Elas poderão se juntar a fabricantes estrangeiros, incluindo a Mitsubishi Heavy Industries, que poderá testar o foguete H3 do Japão em fevereiro, e a Arianespace, que trabalha num voo de teste do foguete europeu Ariane 6.
Novos telescópios espaciais
O telescópio Webb impressionou os entusiastas do espaço e os cientistas com suas visões do cosmos, mas poderemos obter novas vantagens de diversos observatórios orbitais.
O mais significativo pode ser o Xuntian, missão chinesa que será como uma versão mais sofisticada do Telescópio Espacial Hubble. A espaçonave vai pesquisar o universo em comprimentos de onda ópticos e ultravioleta em órbita da Terra, perto da estação espacial chinesa Tiangong. Uma missão liderada pelos japoneses, a XRISM (pronuncia-se “crism”), poderá ser lançada no início do ano. A missão usará espectroscopia de raios-X para estudar nuvens de plasma, o que poderá ajudar a explicar a composição do universo. Um telescópio espacial europeu, o Euclid, também poderá ser lançado em um foguete SpaceX depois que a invasão da Ucrânia pela Rússia fez o artefato perder o lugar num foguete russo Soyuz. Ele estudará a energia escura e a matéria escura do universo.
Um eclipse total e um não tão total
Haverá dois eclipses solares em 2023. Um eclipse total em 20 de abril será mais visto no hemisfério Sul, e a lua esconderá o sol apenas em partes remotas da Austrália e da Indonésia. (Talvez não seja um mau momento para estar em um barco em partes dos oceanos Índico e Pacífico.)
Mas os americanos poderão ter um bom espetáculo em 14 de outubro, quando a América do Norte será visitada por um eclipse anular. Eclipses desse tipo às vezes são chamados de eclipses de “anel de fogo”, porque a lua está muito longe da Terra para bloquear totalmente o sol, mas cria um efeito semelhante a um anel quando atinge a totalidade. A trajetória do eclipse cruza partes do Oregon, Califórnia, Nevada, Utah, Arizona, Novo México e Texas, antes de mergulhar na América Central e do Sul. Onde o clima cooperar, deverá ser um grande show solar e uma boa preparação para o eclipse total em 8 de abril de 2024, que cruzará os Estados Unidos de sudoeste a nordeste.
Novas missões planetárias
Uma nova espaçonave sairá em direção a Júpiter este ano, com o objetivo de ser a primeira a orbitar a lua de outro planeta. O Jupiter Icy Moon Explorer, ou Juice, da Agência Espacial Europeia, será lançado de um foguete Ariane 5 em 5 de abril rumo ao sistema joviano, chegando em 2031. Assim que alcançar o gigante gasoso, ele se moverá para realizar 35 sobrevoos de três das luas gigantes do planeta: Calisto, Europa e Ganimedes, todas as quais podem ter oceanos subterrâneos, acredita-se. Em 2034, Juice começará a orbitar Ganimedes, a maior lua do Sistema Solar.
Mais perto do sol estará a Rocket Lab, pequena empresa de lançamentos fundada na Nova Zelândia que pretende usar seu foguete Electron para enviar uma missão a Vênus. O satélite Photon da empresa tentará implantar uma pequena sonda, construída com pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, que estudará brevemente a atmosfera tóxica do planeta. A missão foi planejada para maio, mas se prevê que sofra atrasos enquanto a empresa prioriza missões para outros clientes.
Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves