Após o anúncio do governo do Estado, nesta terça-feira (5), sobre a abertura de concursos públicos para a contratação de servidores da área de segurança, o tema foi amplamente debatido por diversas entidades representativas das carreiras. A maioria das manifestações foi positiva quanto ao aumento no número de vagas, mas surgiram críticas, principalmente em relação à política de valorização dos profissionais.
De acordo com o governo do Estado, serão oferecidas 2.774 vagas em diferentes áreas da segurança pública: 1.200 para soldados e 150 para oficiais da Brigada Militar; 720 para agentes, escrivães ou inspetores e 30 delegados da Polícia Civil; 400 para soldados do Corpo de Bombeiros Militar; e 274 vagas para peritos e técnicos do Instituto-Geral de Perícias (IGP).
Entidades de classe se manifestam
A Ugeirm, entidade que representa os policiais civis, viu o anúncio com otimismo, mas considerou a medida insuficiente. Para a associação, o ideal seria a contratação de 9 mil agentes, dado que atualmente há uma carência de cerca de 5 mil. A entidade também reforçou a necessidade de uma aplicação mais eficaz da Lei Orgânica Nacional da Polícia Civil, que prevê a unificação das funções de investigador e oficial de polícia. O presidente da Ugeirm, Isaac Ortiz, comparou o anúncio com a antiga política de “esforço para enxugar gelo”, sugerindo que a medida não resolve a falta estrutural de efetivo.
A Associação dos Delegados de Polícia (Asdep) avaliou positivamente o preenchimento das vagas, mas alertou para o fato de que, proporcionalmente à população do Estado, o número de delegados continuará abaixo do ideal. O presidente da Asdep, Guilherme Wondracek, destacou que as condições de trabalho estão desatualizadas, o que tem levado à saída de servidores que buscam melhores oportunidades fora do Estado. Wondracek defendeu a necessidade de uma valorização mais consistente das carreiras policiais.
A Associação Beneficente Antônio Mendes Filho (Abamf), que representa os servidores de nível médio da Brigada Militar, também considerou o anúncio positivo, mas alertou para a carência histórica de efetivo na corporação, que persiste há décadas. O presidente da Abamf, Maico Volz, apontou a falta de uma política de progressão salarial permanente, o que gera incertezas em relação aos reajustes. Segundo Volz, é fundamental que a segurança pública seja reconhecida como essencial, com a valorização contínua de seus profissionais.
A Associação dos Oficiais da Brigada Militar e do Corpo de Bombeiros Militar (AsofBM) manifestou-se de forma favorável ao concurso, destacando a necessidade de cooperação entre os comandos da Brigada e os bombeiros para o planejamento adequado do ingresso de novos servidores. O presidente da AsofBM, coronel Marcelo Specht, afirmou que, apesar da importância do concurso, o volume de vagas não será suficiente para suprir o déficit histórico de efetivo. Ele ainda apontou que a entrada de capitães no Corpo de Bombeiros será essencial para iniciar um fluxo regular de recrutamento e fortalecer a corporação.
A Associação dos Servidores do Corpo de Bombeiros (Abergs) também se mostrou positiva em relação ao anúncio, mas alertou para a falta de pessoal nos quartéis do Estado. O coordenador-geral da Abergs, sargento Jeferson França, defendeu que o edital deve garantir a classificação de soldados e oficiais de acordo com a nova legislação federal, que permite que bombeiros com formação em direito, engenharia e ciências da saúde possam ocupar cargos de oficial.
A Associação dos Peritos Criminais (Acrigs) considerou o anúncio “excelente”, mas a presidente Cristiane Marzotto lembrou que as 70 vagas previstas são insuficientes para cobrir o déficit de 220 profissionais na área. Ela ressaltou que, atualmente, a função conta com apenas 296 servidores ativos, bem abaixo das 509 vagas definidas por lei. Marzotto também destacou o risco de perda de profissionais para outros estados, que oferecem melhores condições salariais.
Em resposta às críticas, o secretário de Segurança Pública do Estado, Sandro Caron, reconheceu a importância do concurso, mas explicou que a iniciativa respeita as limitações fiscais do Estado. Para ele, a medida é uma ação estratégica dentro do planejamento governamental, com o objetivo de suprir as carências de efetivo da maneira mais eficaz possível, dentro da realidade financeira do Estado.
Caron também ressaltou a disposição do governo em ouvir as demandas dos servidores e reafirmou o compromisso em valorizar os trabalhadores da segurança pública. “O reconhecimento é grande, vemos o resultado do trabalho de nossos servidores refletido na redução da criminalidade. Queremos continuar valorizando esses profissionais cada vez mais”, afirmou.
Em resumo, enquanto o anúncio de novos concursos para a segurança pública foi bem recebido por várias entidades, as críticas em relação à falta de políticas permanentes de valorização salarial e à insuficiência do número de vagas refletem a tensão entre as necessidades estruturais das corporações e os limites financeiros impostos pelo governo estadual.