Em entrevista à revista americana The New Yorker, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, afirmou que a falta de regulamentação das redes sociais transformou essas plataformas em terrenos férteis para a propagação de desinformação e discurso de ódio.
“Se Goebbels estivesse vivo e tivesse acesso ao X, estaríamos condenados. Os nazistas teriam conquistado o mundo”, declarou, em referência ao ministro da Propaganda do regime nazista.
A reportagem foi publicada na última segunda-feira (7) na versão digital da revista e integrará a edição impressa do próximo dia 14. O perfil traça a trajetória do ministro, desde sua atuação como secretário de Segurança Pública até a nomeação ao STF, passando por sua postura de “tolerância zero” contra o crime — criticada por setores progressistas — até sua atual figura de destaque no enfrentamento das milícias digitais.
À revista, Moraes voltou a criticar o que chama de “novo populismo digital extremista”, expressão que cunhou em sua tese para concurso como professor titular da Faculdade de Direito da USP. “É um populismo altamente estruturado e inteligente. Infelizmente, no Brasil e nos Estados Unidos, ainda não aprendemos a reagir”, avaliou.
O ministro comparou as big techs às antigas Companhias das Índias dos séculos 17 e 18, acusando-as de operarem globalmente sem respeitar a soberania nacional. “Essas plataformas lucram em detrimento dos países em que atuam, influenciam pessoas, arrecadam as maiores receitas publicitárias do mundo e têm poder para interferir em eleições”, disse. “Não querem respeitar nenhuma jurisdição porque querem ser imunes aos Estados.”
Moraes também comentou a ação civil que enfrenta na Justiça Federal da Flórida, movida pela plataforma Rumble e pela Trump Media — ligadas ao ex-presidente dos EUA, Donald Trump. As empresas questionam a decisão do STF que determinou o bloqueio do perfil de Allan dos Santos. O ministro classificou o processo como “manobra política” e afirmou que juízes estrangeiros não podem invalidar decisões tomadas pela Justiça brasileira.
“Assim como eu não posso obrigar nada nos Estados Unidos, nenhum juiz de lá pode anular minha ordem aqui. Se mandarem um porta-aviões, veremos. Mas, se não chegar ao Lago Paranoá, não muda nada”, ironizou.
No cenário interno, Moraes defendeu o papel do STF em investigações como as das milícias digitais e das fake news, mas admitiu que o protagonismo político da Corte não é o ideal. “Não é saudável que o Supremo seja ator político o tempo todo. O desafio é garantir que o tribunal volte à normalidade.”
Sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro, Moraes disse considerar improvável que o STF reverta sua inelegibilidade, mas reconheceu a possibilidade de que Bolsonaro apoie a candidatura de sua esposa, Michelle, ou de um de seus filhos — embora, segundo ele, nenhum tenha a mesma influência nas Forças Armadas que o ex-presidente.
Moraes não comentou o processo em que Bolsonaro é acusado de tentativa de golpe de Estado, por ser o relator da ação. No entanto, destacou que o parecer da Procuradoria-Geral da República, que endossa os fatos levantados pela Polícia Federal, descredencia a tese de perseguição política.
A reportagem ainda ouviu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que demonstrou preocupação com o avanço de regimes antidemocráticos ao redor do mundo e criticou o uso de satélites da empresa de Elon Musk — dono do X — em áreas de garimpo ilegal na Amazônia.