Para os moradores de áreas remotas na África do Sul, o acesso a medicamentos é um desafio crescente. Pacientes com HIV, como Nozuko Majola, de 19 anos, frequentemente enfrentam viagens longas de mais de uma hora em busca de antirretrovirais (ARV). Essa realidade se agravou desde que os Estados Unidos anunciaram cortes em sua ajuda humanitária, aumentando as preocupações entre os doentes.
HIV na África do Sul
A África do Sul tem uma das maiores taxas de HIV do mundo, com aproximadamente 8 milhões de pessoas vivendo com a doença. Nozuko Ngaweni, que depende de ARVs há décadas, sente-se inseguro quanto ao futuro. “Estou preocupada com a possibilidade de não conseguir a medicação no próximo mês”, revela ela, refletindo sobre a incerteza gerada pelos cortes na assistência.
A importância da ajuda americana
Historicamente, os Estados Unidos têm sido grandes doadores do setor de saúde na África do Sul, com foco especial no combate à AIDS. Em 2023, foram enviados 400 milhões de dólares ao país. Contudo, uma estimativa alarmante feita por Linda Gail Bekker, da Fundação Desmond Tutu, sugere que os cortes podem resultar em até 500 mil mortes na próxima década.
Consequências dos cortes
Desde a presidência de Donald Trump, a assistência humanitária enfrentou cortes severos. A desmantelação da Usaid e a suspensão de contratos impactaram diretamente a saúde em países africanos, especialmente na África Subsaariana, que recebeu 12,7 bilhões de dólares em 2024. De acordo com os Centros Africanos de Controle e Prevenção de Doenças, essa redução poderá levar à morte de até 4 milhões de pessoas por doenças tratáveis.
Impactos na saúde pública
Organizações, como a Amref Health Africa, perderam 20% do seu orçamento, resultando no cancelamento de programas educacionais e na interrupção de exames de tuberculose. No Sudão do Sul, uma crescente escassez de profissionais de saúde e o fechamento de clínicas chegaram a dificultar o combate a surtos de cólera. As consequências têm sido desastrosas, com um aumento nos casos de desnutrição infantil na Somália e o colapso do abastecimento de água no Sudão.
Desafios na luta contra a malária e tuberculose
O corte de financiamento voltado para o combate ao HIV é alarmante, especialmente dado que os EUA pararam de financiar o UNAIDS. No Quênia, a drástica redução dos recursos para tratamento deixou mais de 1 milhão de pessoas sem acesso a medicamentos. A Nigéria, na mesma linha, enfrenta retrocessos nas suas lutas contra AIDS, tuberculose e malária.
Preocupações sobre futuros retrocessos
O impacto desses cortes pode ser devastador. Especialistas, como Lara Dovifat, alertam que estamos retrocedendo em até 20 anos nos avanços de prevenção e tratamento de doenças. Além disso, o financiamento da Gavi, que garante vacinas para crianças em países de baixa renda, também foi reduzido, deixando uma geração vulnerável.
Avanços e iniciativas locais
Apesar dos desafios, existem iniciativas nacionais para contrabalançar a falta de assistência estrangeira. Países como Uganda e Malawi estão tomando medidas para preencher lacunas e apoiar a saúde comunitária. No entanto, a percepção é que a luta contra doenças infecciosas deve ser uma preocupação global, com a necessidade de ação conjunta para evitar consequências mais sérias no futuro.