Os resultados do primeiro turno das eleições presidenciais na Romênia, ocorridas no último domingo (24), surpreenderam a nação. Calin Georgescu, um candidato independente ultranacionalista, conquistou o primeiro lugar com 22,9% dos votos e avançará para o segundo turno contra a reformista Elena Lasconi, da União Salve a Romênia (USR), que obteve 19,17% dos votos.
Marcel Ciolacu, atual primeiro-ministro e líder do Partido Social Democrata (PSD), era amplamente considerado o favorito nas pesquisas, mas acabou em terceiro lugar, com 19,15%, apenas 2 mil votos atrás de Lasconi. Essa será a primeira vez em três décadas que um candidato social-democrata não avança para o segundo turno, o que resultou na renúncia de Ciolacu.
Embora algumas pesquisas de boca de urna inicialmente indicassem que Lasconi e Ciolacu estivessem à frente, a apuração revelou uma virada, com Georgescu assumindo a liderança. Ele é conhecido por seu discurso religioso e nacionalista e defende uma política protecionista, com ênfase no apoio aos agricultores e na produção nacional de alimentos, áreas que marcaram sua carreira política.
O candidato também se destacou nas mídias sociais, assim como outras figuras radicais da Europa, como Jordan Bardella, da França, e Nigel Farage, da Grã-Bretanha. A presença massiva de Georgescu nas redes sociais foi um fator crucial para o crescimento de sua campanha.
Georgescu e seu Impacto nas Redes Sociais
Calin Georgescu, que também é praticante de judô, possui cerca de 3,8 milhões de curtidas e 298 mil seguidores no TikTok. Seus vídeos frequentemente atingem milhões de visualizações, e sua estratégia nas mídias sociais tem sido um elemento central para sua popularidade. Durante a campanha, algumas contas automatizadas foram identificadas comentando em suas publicações, atacando adversários políticos.
No TikTok, seus clipes se tornaram virais, retratando-o em ações como correr, lutar judô e montar um cavalo com vestimentas tradicionais romenas. Essa combinação de conteúdo religioso, engajamento digital e uma mensagem política poderosa lhe conferiu o título de “Messias do TikTok”.
Dragos Stanca, fundador da Ethical Media Alliance na Romênia, destaca a eficácia dos algoritmos das redes sociais, afirmando que eles são projetados mais para impulsionar vendas do que para disseminar informações precisas. Ele alerta sobre os riscos de utilizar essas plataformas para fins políticos, enfatizando que a democracia pode estar em perigo se essa tendência continuar.
O “Voto de Vingança” e suas Implicações
A insatisfação popular também foi um fator importante para o resultado das eleições, como apontou o professor de relações internacionais Valentin Naumescu. Muitos eleitores procuravam um candidato extremista como forma de protesto contra o establishment político, refletindo um desejo por mudanças radicais. A mudança de apoio do eleitorado de George Simion, outro candidato de extrema direita, para Georgescu evidencia essa dinâmica.
Georgescu reconheceu que a incerteza econômica que permeou a Romênia nos últimos 35 anos alimentou essa frustração entre os eleitores. Com uma postura anti-União Europeia e anti-Otan, seus posicionamentos levantam preocupações entre os governos vizinhos, especialmente devido à sua admiração pelo presidente russo Vladimir Putin e pelo primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, conhecidos por suas posturas políticas controversas.
No contexto eleitoral romeno, o presidente possui um mandato de cinco anos e exerce influência em áreas como segurança nacional e política externa. O segundo turno das eleições está marcado para o dia 8 de dezembro, e as implicações desse pleito podem reverberar em todo o continente europeu.