Institucionalizar o dia 20 de novembro, que é o dia da Consciência Negra com o feriado, é um grande avanço para o povo negro, pois muitas comemorações cívicas estão voltadas para a exploração do povo negro.
Vamos ser sinceros, quando a gente lembra de 7 de setembro, as outras comemorações cívicas e militares, a gente vai lembrar que os povos negros estavam à frente das batalhas com determinações de seus donos. Como lembrar da Guerra do Paraguai, sem lembrar que os escravos estavam à frente da batalha por determinação de seus donos, que se achavam que eram seus donos.
Então a gente vê como importante esse feriado como o dia da consciência negra, mas esse dia não pode ser apenas para folgarmos, para usarmos como um caminho para ir para a praia, um caminho para ir para uma cidade, fazer turismo. É um dia de luta, é um dia de colocar para fora todo o racismo estrutural que existe ainda nesse país.
Então, esse dia não pode ser só apenas de folga, até porque se nós olharmos bem, nesse dia, os serviços que são prestados para as cidades, são de corpos negros, a maioria dos negros vão estar lá prestando serviço, porque ainda não existe ainda condições financeiras do povo negro para desfrutar de um feriado com a sua família, ou desfrutar do feriado para os seus estudos, ou até mesmo para o repouso do corpo, afinal, o corpo precisa do repouso.
Na jornada 6×1, a maioria é o povo negro que está ali naquela jornada. Existem muitos desafios, muitos desafios que estão sendo colocados para o próximo período, é um trabalho educacional de combate ao racismo, desse racismo camuflado que existe nesse país. O país é… o Brasil, é um país cujo racismo é camuflado, e ele se revela da pior espécie. Como aconteceu agora em São Paulo, num torneio esportivo entre uma universidade pública e uma universidade particular.
Importância do dia da Consciência Negra
É tão importante quanto o 1º de maio. Se o 1º de maio a gente tem que celebrar o Dia do Trabalhador, esse dia a gente tem que celebrar a participação negra da nossa sociedade, da nossa consciência negra.
Celebrar que nós também somos construtores desse país, que nós também somos intelectuais, que também escrevemos livros, que também fazemos filmes, que também fazemos arte, e também fazemos medicina ou qualquer profissão que possa estar no mundo ou surgir no mundo.
E a gente tem que celebrar essa consciência, não esconder da história do país, e essa questão importante que é a questão da consciência negra, não esconder da história da sociedade a participação do povo negro dentro do nosso país, desde quando nos trouxeram a força para cá, desde das nossas conquistas e dos espaços que nós precisamos ainda conquistar, os nossos direitos.
Faz pouco tempo que a gente celebrou a Lei Áurea, hoje a gente está vivendo a terceira geração pós libertação dos escravos, a chamada Lei Áurea, então isso tem um peso pra gente.
Eu celebro muito essa data participando da marcha contra o extermínio da juventude negra, que é a marcha do Fejunes (Fórum de Juventude Negra do ES), eu celebro, reivindicando direito à vida do povo negro, da juventude negra, que é a primeira a ser discriminada, a primeira a ser suspeita, é a primeira a ser encarcerada, é a primeira que vai sofrer todas as punições que o grande capital joga contra o povo.
E isso impacta muito na minha vida, impacta porque a gente tem que reforçar nossas lutas nesses dias, como se a gente fizesse um refigurar a vida, refigurar a luta, para que todos nós estejamos na luta.
Envolvimento na luta antirracista
Eu participo do Mocambo, tenho ajudado algumas lideranças da Mocambo a tocar o movimento que é super importante, que está na luta antirracista. Então isso para mim é uma contribuição. Também participo do Partido Político como dirigente, pautando os espaços políticos do corpo negro na política.
A importância desse espaço, as discussões para o corpo negro estar na política é muito mais importante por questão de se inserir e por questão de inclusão também. E isso tem movimento muito grande por conta da minha luta antirracista.
Eu não posso viver num país racista, conviver com esse mundo se o meu partido político não tiver uma luta antirracista. Então enquanto o meu partido tiver na luta antirracista, aí sim eu estarei sendo contemplado, até certo ponto, porque a gente também tem que radicalizar nessa luta antirracista.
Um partido político, uma agremiação política, quando ela decide representar o seu povo, ela precisa estar atenta às demandas e necessidades do seu povo. O povo negro tem suas demandas, tem suas necessidades. Estar articulado com esses movimentos e os partidos políticos é fundamental.
A conquista do feriado do dia 20 de novembro faz parte desse espaço. A conquista do direito à cota também faz parte. As penas por crime de racismo faz parte também dessas articulações. O direito à participação na política, na política eleitoral, na política partidária também é uma articulação política. Então essa articulação é grande e precisa ser ampliada por todos os povos.
A realização de debates entre partidos políticos e movimentos sociais, especialmente o movimento negro, sobre políticas de combate ao racismo é um ponto estratégico. Quando um partido demonstra esse compromisso, ele incentiva a participação ativa de seus filiados negros e negras na construção de estratégias de luta.
Ao promover encontros regulares entre filiados setoriais, o partido demonstra um compromisso genuíno com a causa antirracista. Analisando a conjuntura e identificando os desafios específicos enfrentados pela população negra, esses encontros possibilitam a formulação de ações mais eficazes para combater o racismo no país.
