A espiritualidade é uma força essencial na vida das pessoas, capaz de sustentá-las nos momentos mais difíceis. Quando praticada de forma saudável, a fé tem o poder de curar, fortalecer laços e dar significado ao sofrimento. Felizmente, muitas comunidades religiosas desempenham esse papel com dedicação e amor, oferecendo acolhimento e orientação.
No entanto, existem casos em que indivíduos se encontram feridos emocionalmente por experiências em ambientes religiosos, locais onde deveriam encontrar refúgio e apoio. Esse tipo de sofrimento emocional é chamado de síndrome do trauma religioso (STR).
A STR vai além das mágoas com instituições religiosas ou líderes espirituais. Ela representa uma dor emocional profunda, resultante de experiências religiosas fundadas no medo, na culpa, na punição e na repressão. Em muitos desses ambientes, questionar é visto como pecado, sentir-se vulnerável é considerado fraqueza e a obediência cega é a norma.
Essas vivências deixam marcas duradouras. Muitos adultos se sentem culpados por desejar coisas boas, outros têm dificuldades em tomar decisões simples por medo de estar fora da “vontade de Deus”. Há aqueles que perderam a confiança em sua própria intuição, tendo sido ensinados a desconfiar de si mesmos, e indivíduos que encontram dificuldade para orar sem sentir medo de represálias divinas.
Discutir sobre esse tema não é uma crítica à fé, mas uma forma de protegê-la. A verdadeira fé liberta, não controla ou humilha. Ela promove a consciência, amplia a liberdade e encoraja a responsabilidade emocional e espiritual. É vital reconhecer a existência de comunidades religiosas abusivas para proteger a saúde mental e espiritual das pessoas.
É preciso lidar com esses traumas e não ignorá-los em nome de uma paz superficial. A verdadeira paz é sinônimo de segurança emocional.
Felizmente, a cura é possível. A dor causada por líderes ou instituições religiosas não define a espiritualidade de ninguém. É viável trilhar um caminho de recuperação, separando o abuso da verdadeira fé. Para muitos, esse processo começa com um simples passo: buscar ajuda e compartilhar suas experiências dolorosas.
A espiritualidade saudável acolhe, não oprime. Promove a cura, não a doença.
Angela Sirino é psicanalista, sexóloga e autora do livro Caminho da Esperança (Editora Vida)