Nem sempre é fácil expressar sentimentos através de palavras. Muitas mães de filhos neuroatípicos conhecem o medo silencioso sobre o futuro de seus filhos, algo que permanece presente mesmo que não tenha um nome específico. Questões como ‘o que acontecerá com meu filho quando eu não estiver mais aqui?’ preocupam essas mães desde a confirmação de um diagnóstico.
Psicóloga especializada em parentalidade atípica, Mariana Sotero conta que o medo do futuro pode ser visto como uma forma de luto antecipado. Esse tipo de luto não é pela criança que conhecem, mas pelas expectativas de um futuro idealizado que é comum a todos. Quando essas expectativas são quebradas, as mães sentem uma dor mais intensa, pois veem que as conquistas projetadas podem não se concretizar. Esta situação é vivida por Flavia Marques, mãe de Gustavo, que reconhece a ansiedade desde o aparecimento das primeiras suspeitas sobre o diagnóstico de autismo de seu filho.
Luto pelo que ainda não se viveu
Desde a confirmação do diagnóstico, Flavia relata que, embora este traga clareza, também levanta novas perguntas e preocupações. Questionamentos sobre como cuidar e entender as necessidades de seu filho são constantes.
Mariana Sotero explica que a maternidade muitas vezes é vista de forma idealizada, mas quando o diagnóstico exige cuidados contínuos, esse modelo entra em choque com a realidade. Sentimentos como frustração, insegurança e solidão emergem, uma vez que o percurso materno difere do tradicional ‘ideal’.
Quando o ideal não cabe na realidade
Flavia nota que vive seguindo sua intuição, frequentemente se guiando por redes sociais. Ainda que o apoio profissional seja caro e difícil de encontrar, ela tenta manter a fé no processo.
Não identificar pode te adoecer
Por vezes, falar sobre o medo se torna tabu, levando ao desgaste emocional. Mariana esclarece que sentir que se tem tudo sob controle pode mascarar privações emocionais, expressas através de sintomas físicos e emocionais.
Muitas mães, como Flavia, que chama de ‘cansaço silencioso’, encobrem suas fraquezas para não sobrecarregar a rede de apoio.
Cuidar sem se anular
A dedicação dessas mães ocorre frequentemente à custa de si mesmas. Segundo Mariana, a autonegação sustenta esse cuidado integral. No entanto, Flavia percebeu mudanças positivas em sua própria força com o tempo. As pequenas conquistas de seu filho são comemoradas e ela se vê reaprendendo continuamente.
A presença pode ser valiosa para transformar o medo do futuro em algo mais positivo. Para Flavia, estar com seu filho é aprender a valorizar o momento presente. Mesmo com incertezas, ela mantém a esperança que tudo será um aprendizado mútuo.
Para Mariana, além de práticas como mindfulness, encontros com outras mães em situações semelhantes oferecem acolhimento verdadeiro. A importância de cuidar de si é destacada, pois mães atípicas também devem ser vistas e cuidadas.
Flavia finaliza com um conselho para mães recém-diagnosticadas: ‘Respira’. Encontrar outras mães com realidades parecidas e não esperar que seu filho se encaixe na norma pode trazer muito mais amor e vida além do diagnóstico.