Estudantes que cursaram o ensino médio exclusivamente em escolas públicas estão ocupando cada vez mais espaço nas universidades brasileiras. Essa tendência foi destacada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Educação, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 13 de outubro. Os dados revelam que, em 2024, 72,6% dos alunos que frequentam ou já frequentaram um curso de graduação completaram o ensino médio em instituições públicas, contra 67,8% registrados em 2016.
A mesma evolução foi observada entre os estudantes de cursos de pós-graduação, como especializações, mestrados e doutorados. Em 2024, 59,3% desse grupo havia cursado todo o ensino médio em escolas públicas, comparado a 52,2% em 2016. Segundo Adriana Beringuy, pesquisadora do IBGE, esses avanços estão associados às políticas públicas que facilitaram o acesso de egressos de escolas públicas ao ensino superior, como cotas para universidades públicas e programas de financiamento estudantil, como o ProUni e o Fies.
Progressos na escolaridade e inclusão
Em 2024, a pesquisa constatou que 31,3% dos jovens entre 18 e 24 anos haviam concluído ou estavam cursando o ensino superior. Entre as pessoas com 25 anos ou mais, o percentual de conclusão do ensino superior subiu para 20,5%, um aumento em relação aos 15,4% de 2016. Além disso, os dados indicaram que 56% das pessoas dessa faixa etária completaram pelo menos a educação básica obrigatória em 2024, contra 46,2% em 2016.
Os avanços também se refletiram na média de anos de estudo. Em 2024, os brasileiros estudaram em média 10,1 anos, enquanto em 2016 essa média era de 9,1 anos. O crescimento foi registrado tanto entre homens (8,9 para 9,9 anos) quanto mulheres (9,2 para 10,3 anos). Entre as populações por raça, os brancos tiveram uma média de 11 anos de estudo em 2024, e os negros, de 9,4 anos, com crescimento mais expressivo em relação a 2016.
Dinâmica entre trabalho e estudo
A Pnad também investigou a relação entre estudo e trabalho para jovens de 15 a 29 anos. Nesse grupo, 16,4% trabalhavam e estudavam, 39,9% apenas trabalhavam, 25,3% apenas estudavam e 18,5% não trabalhavam nem estudavam. Apesar do número de jovens nessa última categoria ainda ser expressivo, representando 8,9 milhões de pessoas, houve uma redução significativa na proporção desse grupo em relação a anos anteriores: 22,4% em 2019, 20% em 2022 e 19,8% em 2023.
Desafios no acesso ao ensino médio
Mesmo com avanços, ainda há desafios significativos. Em 2024, 8,7 milhões de jovens entre 14 e 29 anos não haviam concluído o ensino médio, seja por abandono ou nunca terem frequentado a escola. Os motivos principais para essa situação foram a necessidade de trabalhar (42%), falta de interesse (25,1%), gravidez (23,4% entre as mulheres) e cuidados domésticos (9% das mulheres). Entre os homens, a principal razão foi a necessidade de trabalhar, mencionada por 53,6%.
Reflexões sobre inclusão e políticas educacionais
Os dados da Pnad Educação ressaltam os avanços proporcionados pelas políticas públicas e programas que visam democratizar o acesso ao ensino superior e reduzir desigualdades educacionais no Brasil. No entanto, desafios estruturais, como a conciliação entre trabalho e estudo e desigualdades de gênero e raça, ainda exigem atenção para garantir que mais brasileiros completem sua formação educacional e, assim, ampliem suas oportunidades no mercado de trabalho.