Em meio às complexas ruas de Tóquio, ergue-se uma estrutura singular que foge aos padrões arquitetônicos tradicionais. Conhecida como The Keep, essa casa apresenta um design geométrico revestido em madeira, com uma forma longa e marcada pela quase total ausência de janelas. Com um interior espartano e funcional, o espaço é equipado apenas com três janelas, uma claraboia, um chuveiro e um fogão de indução.
Shigeru Suzuki, corretor de imóveis, projetou The Keep no bairro de Asagaya como uma segunda residência e um showroom para a tendência de kyosho jutaku, que prioriza casas compactas. No Japão, marcado por uma densa população e uma história de viveiros em espaços reduzidos, essa abordagem arquitetônica reflete uma adaptação às realidades socioeconômicas do país.
A proliferação das casas minúsculas também é uma resposta a mudanças demográficas, como a baixa taxa de natalidade e uma população em declínio. À medida que a demanda por residências maiores diminui, muitos jovens profissionais em Tóquio optam por adquirir essas casas para evitar longos deslocamentos diários de áreas periféricas. Além disso, a escassez de terrenos disponíveis levou a novos desafios regulatórios em algumas regiões que buscam limitar a construção dessas moradias compactas, temendo suas implicações em termos de segurança.
Embora não haja uma definição fixa, as casas minúsculas no Japão costumam ocupar lotes com menos de 50 metros quadrados. Essas estruturas variadas, frequentemente moldadas por terrenos difíceis, são projetadas para maximizar o uso do espaço. A casa de Suzuki, por exemplo, foi construída em um lote triangular de aproximadamente 130 metros quadrados, totalizando 25 metros quadrados de área construída, por um custo consideravelmente abaixo do mercado.
O arquiteto Souichi Kubo, conhecido por criar soluções habitacionais inovadoras, projetou várias destas residências em locais inusitados. Sua abordagem se inspira no minimalismo japonês, refletido em projetos como a Mogura House, uma construção estreita que maximiza a iluminação natural através de um pátio central.
Na comunidade de Zushi, a família Shimura vive em uma moradia que, embora compacta, surpreende pela funcionalidade e pela quantidade de espaços criativos. Com uma sala de estar que comporta confortavelmente 17 pessoas, a casa incorpora arcos que separam ambientes, criando um layout otimizado. Já em Yokohama, os Tashiro construíram uma casa que atende a todas as necessidades familiares, utilizando cada centímetro de espaço de maneira eficiente e prática.
A crescente aceitação das casas minúsculas entre os japoneses é notável. Com a promessa de maior acessibilidade e uma vida mais simplificada, esses lares estão se tornando uma escolha popular entre aqueles que buscam equilibrar a conveniência da vida urbana com a realidade da escassez de espaço. Profissionais da arquitetura como Naoko Mangyoku destacam que a singularidade e os elementos inovadores destes projetos podem atrair clientes, mesmo diante de suas limitações de espaço.