Aprovado por lei em 2017, ainda no governo de Michel Temer, o novo ensino médio vai começar a ser implementado oficialmente neste ano, nas escolas brasileiras públicas e privadas. As aulas na rede pública tem o início marcado para esta quinta-feira (3), ainda com dúvidas e questionamentos sobre o novo método.
O novo ensino foi pensado inicialmente com o objetivo de tornar a etapa mais atrativa e evitar que os estudantes abandonem os estudos. O cronograma definido pelo Ministério da Educação estabelece que seja implementado este ano, de forma progressiva, pelo 1º ano do ensino médio. Em 2023, a implementação segue, com o 1º e 2º anos e, em 2024, o ciclo de implementação termina, com os três anos do ensino médio.
De acordo com a lei, para que o novo modelo seja implantado, as escolas devem ampliar a carga horária para 1,4 mil horas anuais, o que equivale a sete horas diárias. Já em 2022, a carga horária deve ser de pelo menos mil horas anuais, ou cinco horas diárias, em todas as escolas de ensino médio do país.
De acordo com a professora do Departamento de Educação, Política e Sociedade, do Centro de Ensino da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Eliza Bartolozzi, a mudança é chamada de reforma do ensino médio, tendo como principal objetivo aumentar a carga horária do aluno e do professor e também a alteração do currículo.
A professora explicou que antes, existia uma oferta do ensino médio que era de disciplinas de formação geral e agora essa oferta será segmentada por itinerários formativos. Além disso, os alunos, de acordo com a lei, farão escolhas do tipo de formação que eles têm mais identidade.
“Como as escolas se organizaram junto a isso em todo país e especialmente no Espírito Santo? definiram algumas disciplinas que são básicas, por exemplo, existe um componente curricular chamado projeto de vida, considerado o eixo do currículo do novo ensino médio, tendo mais carga horária hoje, do que uma disciplina como história e geografia”, disse Eliza.
Eliza destacou um ponto importante que deve ser fiscalizado durante o processo de mudança para o novo ensino médio. De acordo com a professora, a lei do novo ensino médio precisa ser acompanhada porque tem uma tendência de aumentar a desigualdade educacional.
“É uma mudança bastante grande que altera a carga horária e cria o tempo integral nas escolas. Todavia nós temos que olhar quem são os nossos alunos, grande parte pode fazer isso, não precisa conciliar trabalho e estudo, mas não é a realidade de muitos jovens, então a gente vem observando uma evasão muito grande”, ressaltou.
No Espírito Santo
De acordo com Eliza, ainda é muito cedo para traçar um panorama de como será essa mudança no Espírito Santo. Ela ainda trouxe que existe uma preocupação muito grande com o quadro de professores, e que muitos estão sendo obrigados a dar disciplinas que não são da sua área de atuação, e que existe uma tendência de demissão de professores e de precarização do trabalho dos docentes.
“O grande desafio é a própria mudança do ensino médio, então durante a pandemia, desde 2020 essas mudanças estão acontecendo. Em 2021, elas aceleraram bastante, e em 2022, de acordo com o cronograma do Ministério da Educação (MEC), as mudanças serão concretizadas, então já é um desafio, e dentro de uma pandemia, viver uma mudança tão grande na organização do ensino médio”, frisou a professora.
Em entrevista para a Agência Brasil, o secretário de Educação e presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), Vitor de Angelo, tomando o Espírito Santo como exemplo, o que o aluno capixaba vai encontrar na escola de ensino médio é jornada maior e currículo novo, no que diz respeito à formação geral básica.
“Disciplinas ou componentes curriculares diferentes, com os quais ele não estava acostumado, como eletivas, projeto de vida, estudo orientado, mas ainda sem segmentar na sua preferência de itinerário. A partir do ano que vem, ele vai encontrar o itinerário de aprofundamento dentro da sua escolha”, explicou o secretário.
Desafios
De acordo com De Angelo, a reforma vai trazer alguns desafios, entre eles a possibilidade de aumento das desigualdades educacionais. Ele explicou que o risco é ter escolas com alguns itinerários e outras não, regiões com alguns itinerários e outras não, e que pode haver um aprofundamento das desigualdades dentro do país e dos Estados. Isso significa que um estudante pode não encontrar em seu município o curso técnico ou a formação que deseja.
“São cuidados que precisaremos ter, mas a gente não pode desconsiderar que isso existe para não achar que tudo são flores, que o novo ensino médio vai mudar tudo, vai trazer itinerários, ensino flexível adaptado aos alunos, que eles vão fazer o que quiser. As nossas escolas são as mesmas e elas têm dificuldades, os professores tiveram formação, mas não viraram a chave e mudaram de uma hora para outra, então é preciso ter cuidado com isso para não se frustrar”, explicou.