Eu poderia começar este texto falando sobre estudos científicos que comprovam os benefícios da escrita manual para a memória e para o processamento emocional. Mas a verdade é que não preciso. Basta olhar para os cadernos abertos na minha mesa, páginas amassadas, manchas de café, tinta azul escorrendo em algumas letras borradas, para saber que ali existe algo que nenhum aplicativo pode replicar.
Hoje em dia a grande maioria das pessoas não carrega mais papel e caneta, mas existe algo peculiar no ato de escrever a mão que vai além da praticidade, que tanto é usada como desculpas para fugir do lápis e da caneta.
Quando sua caneta desliza no papel, você não está apenas registrando palavras. Está criando um ritual íntimo, uma conversa silenciosa com você mesmo. Jung entendia isso. E seu famoso Livro Vermelho, não tinha somente anotações terapêuticas, eram objetos vivos, cheios de rabiscos, correções e desenhos magníficos que são verdadeiras obras de arte do inconsciente. Ali, a escrita não era sobre perfeição, mas sobre processo.
E é justamente isso que perdemos quando trocamos o caderno por telas, o processo! Digitamos rápido, apagamos mais rápido ainda, e no final, nossas ideias ficam tão lisas e impessoais quanto a fonte Arial tamanho 12. Não há marcas de hesitação, não há o sublinhado agressivo de uma frase importante, não há aquele “PS: isso aqui é sério” escrito depois de três páginas de divagações. A escrita digital é eficiente, sim, mas é também estranhamente descartável, como se nossas próprias ideias não merecessem atenção plena.
Tem um filme que fala da escrita como objeto de desenvolvimento da criatividade, que por sinal é meu filme favorito, chama-se “Encontrando Forester”. Nele existe um estímulo da escrita à mão e também a escrita na máquina de escrever, que é tão, mas tão diferente da escrita no computador… Ela traz o digitar duro e ritmado da máquina de escrever, só que sem a possibilidade de apagar, vício que temos nos computadores e celulares. Recomendo esse filme e recomendo também que você escreva sem pensar, deixe fluir, como é proposto no filme, depois você para, lê, corrige e vê se precisa de ajustes.
Permita-se escrever à mão, e se por um acaso tiver, pode até ser na máquina de escrever! Esse exercício de ir pro analógico ajuda na autorregulação da sua psique e o mais importante é que te permite ter uma experiência fora do digital! Trabalho com o mundo digital todo santo dia, e sei muito bem da importância de ter momentos de conversa com nós mesmos. Pare, escreva, desenhe, rabisque, pinte! Ser revolucionário no meio digital é manter o que faz nossos cérebros funcionarem e não o que os deixa no modo automático!