Já escrevi um artigo sobre a importância da memória, no caso era sobre o “problema de esquecer na história”, mas a memória, principalmente de um povo, é algo crucial para a construção de um futuro. Só que dessa vez quero te propor a reflexão sobre o orçamento mínimo para museus no Brasil.
Vamos aos fatos. Apenas 4% dos R$180 milhões que seriam destinados ao Ibram (Instituto Brasileiro de Museus) realmente foram aplicados, isso em 2024. Em 2025, que mal começou e já vai de mal a pior, apenas R$5,2 milhões do orçamento do Ibram estão previstos para investimento, menos de 3% do total, de acordo com a matéria publicada pelo Brasil de Fato. Mas não para por aí, o Ibram já havia solicitado mais de R$90 milhões para manutenção básica, ou seja, nem o mínimo do mínimo é incluído no orçamento nacional para manter os museus do Brasil.
Que o arrocho no orçamento nacional brasileiro vem degolando várias áreas essenciais para a população, não é novidade. Porém, museus precisam de investimento?
O Ibram cuida de quase 30 instituições, 9 estão fechadas ou operando parcialmente. Se a instituição está fechada é por falta do básico. E talvez vale lembrar aqui o desastre que foi o incêndio que destruiu boa parte do acervo do Museu Nacional , na Zona Norte do Rio de Janeiro.
Você pode pesquisar em qualquer canto da internet, todos os jornais noticiaram e apontaram que o Museu Nacional já vinha operando com orçamento reduzido. Perdemos nada mais que 2 séculos de história e 200 milhões de itens nesse incêndio.
Relembro esse incêndio do Museu Nacional, porque não é uma realidade muito distante de outros museus espalhados pelo Brasil que operam, também, com orçamento reduzido. A falta do básico, que é manutenção do museu, já não é feito. O que isso diz sobre a nossa memória como país?
Respondendo a primeira pergunta: Museus precisam de investimento? Sim, mais do que nunca. Um povo sem memória, é um povo vulnerável. Não à toa queimavam bibliotecas nas guerras passadas e atuais. A biblioteca, assim como o museu, é um ambiente de memória, sem memória não temos um passado, não temos uma referência do que já fomos e do que podemos ser no futuro.
Repetindo e já respondendo: O que isso diz sobre a nossa memória como país? Ao meu ver cultura virou um debate de achismos e senso comum para defender posições políticas, é só ver o debate sobre a Lei Rouanet. A memória pouco importa nesses debates e se possível, vão sempre queimá-lá.
Não importa o quão trágico tenha sido o incêndio no museu nacional, os políticos vão mandar uma nota de pesar, como foi o caso do Temer (que era o atual presidente), e não vão se preocupar em promover e criar políticas públicas para conservar a nossa memória, ou se quer vão se interessar em conhecer a realidade do Ibram e de outros museus, porque para eles, principalmente aqueles que vivem defendendo um patriotismo (mais norte-americano do que brasileiro), é melhor que queime tudo. Um povo sem memória, sem acesso a essa memória, afundado em fake news e no algoritmo das redes sociais, é um povo dominado e explorado.