domingo, 11 de maio de 2025

Descansar também é político

Ultimamente venho refletindo sobre produtividade, muito instigada pelo vídeo da Mikannn no YouTube, “A armadilha da produtividade no lazer”. No vídeo, a Mikannn fala muito sobre como trabalhar com séries e filmes, falando sobre essas obras, traz uma pressão ou culpa quando ela assiste algo para relaxar. Não é surpresa que muitas pessoas se identificaram com ela. Quem nunca se sentiu mal por que não assistiu aquela série que está no hype? 

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Nesse caso, a Mikannn falava porque não tinha um perfil aberto no Letterboxd, aplicativo de avaliação de filmes e séries. E me lembrei de outro tipo de aplicativo, o Skoob, que é um aplicativo de avaliação de livros. Tenho o mesmo problema que a Mikannn, só que com outro tipo de aplicativo. 

A reflexão que proponho é: será que precisamos de aplicativos ou ferramentas para definir o quanto somos produtivos no lazer? 

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Talvez já te perguntaram: Quantos livros você leu em 2024? Quantas séries já viu esse ano? Quantos filmes indicados ao Oscar você assistiu? 

Caramba, já não temos coisas demais para fazer no trabalho e no cotidiano, que precisamos de um medidor de produtividade no descanso?

Essa reflexão me lembra um #textodesegunda que a Juvi posta no Instagram, mais especificamente uma que ela chamou na legenda de “performance”. A Juvi começa falando que “Tudo é político”, mas vou destacar aqui um trechinho que casa com a nossa reflexão:

“Tudo é político

Ninguém acorda todo dia 

E tira foto do pão com manteiga

Tudo virou performance

Tudo é enquadramento, tudo é palco 

Tudo é político, tudo é mídia 

O privilégio de tirar o corpo fora

Esse privilégio de se retirar 

É dos privilegiados apenas 

Não devemos largar o celular 

Devemos, sim, fazer as pazes com a nossa natureza ciborgue 

Precisamos ser mais humanos 

Mais políticos 

Menos performáticos”

Juvi – performance #textodesegunda

Mas adianta a Juvi fala que devemos “ser a imperfeição”, aceitar nossas contradições, afinal isso é o que nos faz humanos. E acredito que começar e desistir é algo tão humano, que só nós sabemos como é essa sensação. Infelizmente, dependendo do que desistimos, sentimos uma imensa culpa por não ter ido até o final. 

Vou dar um exemplo pessoal. Comecei um painel de macramê em setembro de 2024, fiz 90% do painel na aula, e me comprometi a terminar em casa. Pois bem, estamos em abril de 2025 e o macramê ainda está me esperando. 

Já tem um bom tempinho que parei de me cobrar, principalmente daquilo que não tem como ser feito na hora. O macramê, me falta mesmo levar na aula para finalizar com a professora. Mas tem coisas que não damos conta e tá tudo bem!

Escrevi sobre se “libertar” do celular, mas será que se libertar das cobranças e das autocobranças não é o suficiente? Não tenho a resposta. Porém, quando paro para pensar que não acompanhei a última temporada de Stanger Things, ou que não assisti as estreias da série derivada de Duna, simplesmente tô nem aí! Terminei de ver a série derivada de Duna esses dias, levei uns 4 ou 5 meses pra assistir.
Assim é a vida, às vezes não damos conta de tudo, já tem trabalho, vida social, as tarefas de casa, autocuidado… Não precisamos ser “produtivos” no lazer também, já produzimos todos os dias, esse é o core de ser classe trabalhadora, produzimos as riquezas que movimentam o mundo, seja serviço ou produto, é a nossa força de trabalho que tudo produz. Se permitir descansar é libertador e revolucionário.

Você já deve ter ouvido alguém falar: trabalhe enquanto eles dormem. Eu quero mais é dormir. Não tem como trabalhar exausta, o descanso é necessário. Se fossemos feitos para só trabalhar, só produzir, não teríamos uma mobilização contra a escala 6×1, que hoje é um dos aparatos que mais nega descanso aos trabalhadores. 

Existe um “ser” humano em deixar para lá e fazer o que realmente quer, muitas vezes queremos um bom descanso, sem cobrança de ver o filme da Fernanda Torres, ou a série do momento. A hora certa para cada entretenimento chega, ter paciência e fazer o que dá já tá ótimo. Não precisamos performar o tempo todo. 

Sempre terá um monte de coisa pra fazer, mas entenda que muita coisa pode esperar amanhã, semana que vem ou o próximo mês. E o mais importante, não se culpe por deixar as coisas acontecerem. Te dou uma dica, algo que estou internalizando para ter saúde mental: Produtividade também tem a ver com saber seus limites e dar tempo ao tempo, e pode ser que seja um momento para “perder tempo” e descansar. 

Fomos ensinados a vida toda que produtividade é algo bom, mas produtividade no lazer é a máxima do capitalismo tardio. No fim, é tudo político, é tudo performance como disse a Juvi. Para que isso mude é preciso mais rebeldia e entender que não fazemos revolução com corpos e mentes exaustos, mas sim ao lado de outros como nós, afinal, ninguém faz nada sozinho. 

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Leticia Aguiar
Leticia Aguiar
Letícia Cristina é bibliotecária, empreendedora, costureira e amante dos cuidados capilares.

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