Ultimamente venho refletindo sobre produtividade, muito instigada pelo vídeo da Mikannn no YouTube, “A armadilha da produtividade no lazer”. No vídeo, a Mikannn fala muito sobre como trabalhar com séries e filmes, falando sobre essas obras, traz uma pressão ou culpa quando ela assiste algo para relaxar. Não é surpresa que muitas pessoas se identificaram com ela. Quem nunca se sentiu mal por que não assistiu aquela série que está no hype?
Nesse caso, a Mikannn falava porque não tinha um perfil aberto no Letterboxd, aplicativo de avaliação de filmes e séries. E me lembrei de outro tipo de aplicativo, o Skoob, que é um aplicativo de avaliação de livros. Tenho o mesmo problema que a Mikannn, só que com outro tipo de aplicativo.
A reflexão que proponho é: será que precisamos de aplicativos ou ferramentas para definir o quanto somos produtivos no lazer?
Talvez já te perguntaram: Quantos livros você leu em 2024? Quantas séries já viu esse ano? Quantos filmes indicados ao Oscar você assistiu?
Caramba, já não temos coisas demais para fazer no trabalho e no cotidiano, que precisamos de um medidor de produtividade no descanso?
Essa reflexão me lembra um #textodesegunda que a Juvi posta no Instagram, mais especificamente uma que ela chamou na legenda de “performance”. A Juvi começa falando que “Tudo é político”, mas vou destacar aqui um trechinho que casa com a nossa reflexão:
“Tudo é político
Ninguém acorda todo dia
E tira foto do pão com manteiga
Tudo virou performance
Tudo é enquadramento, tudo é palco
Tudo é político, tudo é mídia
O privilégio de tirar o corpo fora
Esse privilégio de se retirar
É dos privilegiados apenas
Não devemos largar o celular
Devemos, sim, fazer as pazes com a nossa natureza ciborgue
Precisamos ser mais humanos
Mais políticos
Menos performáticos”
Juvi – performance #textodesegunda
Mas adianta a Juvi fala que devemos “ser a imperfeição”, aceitar nossas contradições, afinal isso é o que nos faz humanos. E acredito que começar e desistir é algo tão humano, que só nós sabemos como é essa sensação. Infelizmente, dependendo do que desistimos, sentimos uma imensa culpa por não ter ido até o final.
Vou dar um exemplo pessoal. Comecei um painel de macramê em setembro de 2024, fiz 90% do painel na aula, e me comprometi a terminar em casa. Pois bem, estamos em abril de 2025 e o macramê ainda está me esperando.
Já tem um bom tempinho que parei de me cobrar, principalmente daquilo que não tem como ser feito na hora. O macramê, me falta mesmo levar na aula para finalizar com a professora. Mas tem coisas que não damos conta e tá tudo bem!
Escrevi sobre se “libertar” do celular, mas será que se libertar das cobranças e das autocobranças não é o suficiente? Não tenho a resposta. Porém, quando paro para pensar que não acompanhei a última temporada de Stanger Things, ou que não assisti as estreias da série derivada de Duna, simplesmente tô nem aí! Terminei de ver a série derivada de Duna esses dias, levei uns 4 ou 5 meses pra assistir.
Assim é a vida, às vezes não damos conta de tudo, já tem trabalho, vida social, as tarefas de casa, autocuidado… Não precisamos ser “produtivos” no lazer também, já produzimos todos os dias, esse é o core de ser classe trabalhadora, produzimos as riquezas que movimentam o mundo, seja serviço ou produto, é a nossa força de trabalho que tudo produz. Se permitir descansar é libertador e revolucionário.
Você já deve ter ouvido alguém falar: trabalhe enquanto eles dormem. Eu quero mais é dormir. Não tem como trabalhar exausta, o descanso é necessário. Se fossemos feitos para só trabalhar, só produzir, não teríamos uma mobilização contra a escala 6×1, que hoje é um dos aparatos que mais nega descanso aos trabalhadores.
Existe um “ser” humano em deixar para lá e fazer o que realmente quer, muitas vezes queremos um bom descanso, sem cobrança de ver o filme da Fernanda Torres, ou a série do momento. A hora certa para cada entretenimento chega, ter paciência e fazer o que dá já tá ótimo. Não precisamos performar o tempo todo.
Sempre terá um monte de coisa pra fazer, mas entenda que muita coisa pode esperar amanhã, semana que vem ou o próximo mês. E o mais importante, não se culpe por deixar as coisas acontecerem. Te dou uma dica, algo que estou internalizando para ter saúde mental: Produtividade também tem a ver com saber seus limites e dar tempo ao tempo, e pode ser que seja um momento para “perder tempo” e descansar.
Fomos ensinados a vida toda que produtividade é algo bom, mas produtividade no lazer é a máxima do capitalismo tardio. No fim, é tudo político, é tudo performance como disse a Juvi. Para que isso mude é preciso mais rebeldia e entender que não fazemos revolução com corpos e mentes exaustos, mas sim ao lado de outros como nós, afinal, ninguém faz nada sozinho.