Todos já estavam em seus lugares aguardando a chegada do professor. A sala tinha cinco fileiras e cerca de vinte carteiras escolares — exatamente o número de alunos. Gabriela sentava-se na terceira carteira da terceira fileira, enquanto Laura, sua irmã, ocupava a terceira carteira da quarta fileira. O clima ainda carregava um resquício de tensão, mas isso ia se dissipando conforme os alunos conversavam ou mexiam em seus celulares.
— Espero que a primeira aula seja legal — disse Laura, desenhando no caderno o novo modelo de blusa que tinha imaginado. — Afinal, seria sacanagem colocarem uma aula chata logo na primeira segunda-feira do ano.
A porta abriu-se, e um homem entrou na sala com um semblante tão cansado que parecia preferir a morte àquela situação. Presumivelmente o professor, ele era alto — devia ter pelo menos 1,90 de altura —, com uma palidez que fazia a maquiagem pesada de Maria Alice parecer pó de arroz barato. Seus cabelos loiros e ondulados chegavam ao pescoço, e seus olhos verdes, embora bonitos, perdiam-se no vazio de alguém que claramente não via graça em estar ali. Duas cicatrizes chamavam a atenção: uma nos lábios e outra, larga e profunda, no pescoço.
— Bom dia, alunos — cumprimentou, com uma voz tão arrastada quanto seu olhar. O sotaque, uma mistura de russo com francês, era inconfundível.
— Bom dia — responderam os alunos, em uníssono.
— Detesto enrolação, então vamos direto ao ponto. — Ele pegou uma caneta pincel verde do bolso e escreveu no quadro: Dmitri Smirnov Durant – Química. — Pelos próximos três anos, serei o responsável por fazer com que seus cérebros adolescentes absorvam pelo menos o básico dessa matéria.
“Pelo menos tem letra bonita”, pensou Gabriela, sorrindo ao ouvir Laura suspirar de decepção.
— Química na primeira aula da segunda-feira? Isso é covardia — murmurou Laura, baixo o suficiente para só Gabriela ouvir.
— Antes de começarmos a parte que — suponho — nenhum de vocês quer que comece, vamos nos apresentar. Venham à frente, um por um.
Davi levantou a mão:
— Mas, professor, a gente já se conhece.
— Eu não os conheço. E responda, Silent Hill: você prefere mesmo ter aula de química às sete da manhã no primeiro dia de aula?
Os alunos trocaram olhares confusos, sem entender o apelido. Dmitri, porém, já explicava:
— Adolescentes estão na fase mais bizarra dos hormônios. Como ainda estão se desenvolvendo, a maioria é feia — especialmente os meninos. — E antes que se ofendam, saibam que é algo universal. Aceitem os apelidos.
Contra todas as expectativas, a turma riu. O professor era esquisito, mas de um jeito engraçado.
“Essas crianças são realmente diferentes”, refletiu Dmitri, observando a classe. “Agora entendo por que os Quatro Irmãos as escolheram para os Arcanos nesta Era. Só espero guiá-las pelo caminho certo — talvez assim o mundo sobreviva mais alguns séculos… e eu, finalmente, possa descansar.”