Como um pequeno texto como este não comporta o tamanho da participação e do talento das mulheres na música, nossa intenção é apresentar nomes importantes e pouco conhecidos do grande público. Vamos começar por uma gaúcha que influenciou o ensino da música no nosso país. Trata-se de Esther Scliar.
Ela nasceu em Porto Alegre em 28 de setembro de 1926. Em 1945, Esther Scliar diplomou-se em piano pelo Instituto de Belas Artes de Porto Alegre (atual Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Em 1948, ela se mudou para o Rio de Janeiro onde estudou contraponto, harmonia e composição com Hans-Joachim Koellreutter.
Esther Scliar também é conhecida pelo seu trabalho na educação musical. Ela ensinou teoria musical, percepção, análise, morfologia e didática do ensino musical nos seminários de música Pró Arte do Rio de Janeiro. Por meio de sua atuação como educador influenciou gerações de artistas de diversas tendências da música, especialmente na área da música contemporânea.
Assim, muitos de seus alunos se destacaram por seu trabalho. Dentre eles, citamos Milton Nascimento, Paulinho da Viola, Paulo Moura, Luiz Eça, Hélcio Milito, Egberto Gismonti, Vânia Dantas Leite, Paulo Dorfman, Ronaldo Miranda, Flávio de Oliveira, Guilherme Bauer e Marco Antônio Araújo, entre outros.
Uma de suas peças mais importantes é a Sonata para piano, ainda que sua obra tenha incluído diferentes gêneros, inclusive a música para teatro. Como professora, orientou artistas como Milton Nascimento, Egberto Gismonti e Ronaldo Miranda.
Esther Scliar – Sonata para piano (Fani Lowenkron, piano)
Outra compositora desconhecida do grande público é a paranaense Jocy de Oliveira. Nascida em Curitiba no ano de 1937, ela é considerada pioneira no uso das artes multimídia no país. Em 1961 foi idealizadora da Primeira Semana de Música de Vanguarda, no Rio de Janeiro e em São Paulo, quando apresentou a música eletrônica ao público brasileiro. A segunda edição desse evento ocorreu em 1966.
Na obra Noturno de um piano (2006/2007) Jocy denuncia a situação da música erudita. O lançamento de um piano ao mar é apresentado como o símbolo de uma alta cultura em desaparição.
No vídeo também questiona-se o papel do artista na sociedade de hoje e o piano como forma emblemática que submerge em meio ao domínio da cultura de massa.
Noturno de um piano – by Jocy de Oliveira
A música sacra medieval não é vista como um espaço para obras autorais. Os monges tinham o cuidado para fazer com que ninguém se destacasse por cantar melhor do que os seus pares. Isto porém não impediu o surgimento de alguns nomes de destaque na composição do canto gregoriano, como é o caso de Hildegard von Bingen.
Ela foi monja, teóloga, musicista, poeta e dramaturga, pregava em meio aos homens e aos 38 anos se tornou abadessa de mosteiro. “O que nós chamamos agora de arte, na sua época, era religião. Se eu tivesse que definir Hildegard para o nosso mundo, eu diria que ela era uma artista”, definiu a filóloga Victoria Cirlot. A sua contribuição foi tão grande que, em 2012, o papa Bento XVI proclamou-a Doutora da Igreja.
Hildegard von Bingen – Hortus Deliciarum
Há também o curioso caso de Fanny Mendelssohn, irmã do famoso Félix Mendelssohn. Como no início do século XIX, da mulher se esperava uma dedicação exclusiva ao lar, Fanny recebeu aulas de pianos para exibir o seu talento apenas aos que frequentassem a sala de estar de sua casa. Sua decisão de se tornar uma compositora causou vergonha a sua família, mas, com o apoio do marido, conseguiu apresentar algumas de suas canções.
Dizem que ela assinava suas obras como F. Mendelssohn para pensarem que as músicas eram do irmão. Só assim ela conseguiu divulgar parte de sua obra sem despertar suspeitas.
Fanny Mendelssohn (1805-1847) – Trio Op. 11 in D minor for Piano, Violin and Violoncello
Estas mulheres citadas aqui são apenas uma amostra de um rico universo musical composto por muitas outras que são parte da história da música. Fica aqui essa pequena homenagem e desejo de ver e ouvir mais obras fruto do talento de outras mulheres.