sexta-feira, 14 de março de 2025

Muito mais do que musas inspiradoras (parte 1)

Neste mês celebramos o dia internacional da mulher. Ao contrário do que muitos imaginam, essa data não é um momento de darmos os parabéns às mulheres com quem convivemos ou para os departamentos de recursos humanos prepararem palestras sobre a saúde da mulher no ambiente de trabalho.

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O dia 8 de março deve ser um momento para refletirmos sobre como a sociedade é injusta e violenta com as mulheres e quais os passos devem ser tomados para mudar essa situação. Dentre as violências mais comuns contra as mulheres podemos citar o apagamento das suas contribuições em diversos campos do trabalho, da arte e da ciência.

Portanto, neste mês vamos destacar a vida e a obra de algumas das muitas mulheres que fazem parte da história da música. Vamos começar por aquela que é considerada como a maior personalidade feminina da música brasileira, Chiquinha Gonzaga.

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Mais conhecida do grande público, Chiquinha Gonzaga nasceu no Rio de Janeiro em 17 de outubro de 1847. Era filha de José Basileu Neves Gonzaga, militar ilustre do Império, e de Rosa, uma filha de escravizada. Seu nome de batismo era Francisca Edwiges Neves Gonzaga.

Chiquinha Gonzaga cresceu e se educou num período em que a vida da capital do Império passava por grandes transformações. Além de aprender a escrever, ler e fazer cálculos, estudar o catecismo, e outras prendas femininas, a jovem sinhazinha iniciou-se no piano. Ela foi educada para ser uma dama de salão e, aos 16 anos, por escolha de seu pai, casou-se com o empresário Jacinto Ribeiro do Amaral. O casamento não dura e gera uma série de desventuras que surge Chiquinha Gonzaga.

Isso aconteceu em 1877, após desilusão amorosa, maldição familiar, condenações morais e desgostos pessoais é uma mulher que precisa sobreviver do que sabia fazer: tocar piano. É bom lembrar que a prática da música ao piano, ou até mesmo a composição e publicação de obras próprias, não eram incomum às mulheres daquela época, desde que fosse mantido o respeito ao espaço feminino por excelência, ou seja, o da vida privada.

Ela, no entanto, foi além e se profissionalizou como pianista e compositora. Sua primeira música foi a polca Atraente e começou a escrever músicas para o teatro. Em janeiro de 1885, Chiquinha Gonzaga estreia no teatro com a opereta A corte na roça.

Chiquinha Gonzaga – Atraente (Maria Teresa Madeira, piano)

Chiquinha Gonzaga escreveu peças para piano, piano solo e canto em diversos estilos, como tangos brasileiros, canções, polcas, valsas, habaneras, fados, baladas, modinhas, choros, mazurcas, dobrados, duetos, serenatas e peças sacras. Dessa extensa obra destacam-se Abre alas e Lua Branca.

Lua Branca | Luiza Lara

Nossa segunda homenageada é menos conhecida do grande público. Trata-se da pianista maranhense Tânia Maria que, por sua vasta produção fonográfica, tornou-se influente no cenário do jazz contemporâneo.

Dentre os prêmios conquistados ao longo de sua vida destacamos o Golden Leonard Feather Award com o disco Piquant (Concord Jazz Picante, 1980), uma indicação ao Grammy na categoria “Melhor performance vocal feminina”, em 1985, e outra de “Melhor Álbum de Jazz Latino” no XIII Grammy Latino (2012) pelo álbum Tempo (Naïve, 2011). Além disso, Tânia Maria é mencionada em importantes obras que tratam de jazz – Madame Jazz Contemporary: women instrumentalists (1995) e Louis’ Children: American Jazz Singers (1984) de Leslie Gourse, da revista JazzTimes; em Blue Notes: profiles of jazz personalities (2011) de Robert Kapelle, professor da Washington & Jefferson College, e no Elas também tocam jazz (1989) do crítico brasileiro Luiz Orlando Carneiro.

Piquant – Álbum completo

Nascida em 9 de maio de 1948 em São Luís, Maranhão, Tânia Maria acompanha sua família em uma mudança para Volta Redonda, quando seu pai foi trabalhar na Companhia Siderúrgica Nacional – CSN. Lá ela entra no Conservatório de Música e aos 12 anos já liderava sua banda que tocava no Clube Náutico, espaço destinado aos trabalhadores menos qualificados da siderúrgica.

Essa experiência fez com que Tânia Maria tivesse contato com vários ritmos dançantes, como o bolero, a rumba, estilos de samba e fox-trot. A partir da década de 1960 começam os seus primeiros registros fonográficos como as músicas Serão do papai, de Amâncio Cardoso, e Papaizinho, de Francisco de Paula. Aos 14 anos lança seu primeiro álbum, Para dançar vol. 2. Desde então a artista maranhense lançou 28 álbuns, além de singles, EP’s e compilações.

É importante lembrar que esse texto traz apenas um resumo de duas carreiras muito vastas e cujas obras não cabem nestas poucas linhas. Espero, porém, que sirva como demonstração da força e do talento de muitas outras mulheres na música e em outras áreas.

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Ulisses Mantovani
Ulisses Mantovani
Bacharel em Música da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e Servidor Público Estadual

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