Após o café da manhã, as duas irmãs, junto com o resto da turma, foram em direção ao auditório. O motivo era que os representantes haviam recebido uma mensagem do coordenador informando que haveria um evento de abertura antes do início das aulas.
— O que será que eles querem? — perguntou Bernardo, enquanto caminhavam para o auditório. — Será que estão tentando acalmar os ânimos? Porque, se for isso, estão fazendo um trabalho de m*erd*.
O que Bernardo disse era verdade. Afinal, por mais que todos tivessem ficado impressionados com os novos apartamentos de luxo e todo aquele tratamento especial, a realidade era que ainda estavam com medo e receio depois de tudo o que havia acontecido no final do ano passado.
— Levando em consideração que, de alguma forma, eles convenceram nossos pais de que ainda seria uma boa ideia estudar aqui, acho que, na verdade, estão fazendo um ótimo trabalho — disse Maria Alice, e todos acabaram concordando com ela. — Aliás, alguém conseguiu descobrir qual foi o argumento super f*d* que eles usaram? Porque, toda vez que pergunto aos meus pais, eles desviam do assunto.
Todos negaram. Ninguém sabia como o diretor ou o dono da escola haviam conseguido.
Maria Alice Souza Pereira era o que muitos chamariam de “a garota rockeira” ou “a garota gótica” — como se fosse algum clichê de série americana. Ela gostava de ouvir músicas com um som mais pesado, como rock, metal ou qualquer banda gótica indie que a maioria das pessoas nunca ouviria falar. Adorava filmes de terror e fazia alguns rituais em louvor à Quarta Irmã. Maria tinha cabelo curto, de um castanho tão escuro que parecia preto à distância, além de algumas mechas vermelhas que pintava desde os 10 anos. Sua pele era estranhamente branca para alguém que vivia em um país tropical — embora boa parte desse tom se devesse à maquiagem pesada que usava diariamente.
Porém, ao contrário do que muitos imaginariam, Maria não era grossa ou esquisita. Na verdade, era uma pessoa gentil e doce, do tipo que fazia os outros se sentirem livres e sem medo de experimentar os prazeres da vida — o que, às vezes, a tornava um pouco irresponsável, mas de um jeito divertido.
Ao chegarem ao auditório, mesmo já tendo participado de eventos ali antes, era impossível não se impressionar. O lugar parecia mais um teatro do que um auditório, especificamente no estilo rococó. Ao longo do corredor, havia diversas estátuas muito bonitas, mas Gabriela nunca soube quem elas representavam.
— Sabe, agora você tem o poder de ver através das coisas, seja de forma literal ou até ler a mente de alguém — disse sua carta-guia. Gabriela levou um susto, pois havia se esquecido de que ela estava ali. — Se está tão curiosa para saber quem são essas estátuas, é só usar esse poder.
— Espera, eu posso usar esse poder para isso?
— Sim. Com o “Olhar Lunar Celestial”, você pode ver coisas ocultas, como os pensamentos de alguém, a anatomia do corpo dela — como um tipo de raio-X — ou até informações sobre objetos.
A carta voou até a mão de Gabriela, e uma luz forte começou a brilhar. Ela se transformara em um colar: o cordão era de couro, e no centro havia uma pedra-da-lua em formato de lua minguante, com uma cruz no meio.
— Por exemplo, se usar esse poder nas estátuas, poderá saber até os mínimos detalhes: os materiais usados, sua origem, quem foi o artista e até quem a estátua representa ou quem serviu de inspiração — a carta continuou a explicação, só que agora como um colar. — Ah, e me transformei nisso para facilitar o uso dos seus poderes. Além do mais, deve ser estranho andar por aí com uma carta voadora, mesmo que só você possa me ver.
— Uau!
Mas antes que Gabriela pudesse fazer ou dizer algo, Laura a chamou:
— Vamos, Gabriela! O evento já vai começar.
— Já estou indo! — Gabriela colocou o colar e correu para se sentar ao lado da irmã.