Conheci e tive aulas com professores excelentes em minha trajetória acadêmica. Daqueles que você sai da aula pensando que já sabe tudo sobre o assunto estudado. Só porque o professor transformou algo difícil e profundo, em algo mais compreensível.
Entre esses professores estava o Mendonça. Morando no interior de São Paulo, ele ia de sua cidade para São Bernardo do Campo toda semana, apesar dos oitenta e dois anos. Pessoa simples, de conhecimento amplo, e que mantinha a mesma vivacidade de um garoto.
Era muito comum, nos intervalos das aulas do doutorado, encontrarmos o Mendonça na cantina, tomando um café. Ele se aproximava da gente, conversava e contava piadas. Como se fosse um de nós. Que se registre: a distância intelectual era abissal, mas isso não o impedia!
Havia um outro professor, com quem tive aulas no mestrado, que tinha uma assinatura toda diferente. Alguém me disse que era a assinatura normal acrescida de “summa cum laude”, que significa “com a maior das honras”. Alguém que havia sido aprovado no doutorado com distinção, com o reconhecimento por obter a maior nota possível. Algo como “10 com louvor”.
Na época do doutorado, eu era bolsista da Fapesp e, para testar o conhecimento que íamos acumulando para a futura tese, participávamos de congressos e reuniões científicas. Havia verba específica da bolsa para isso. Chile, Argentina, Peru, México, eram os destinos mais comuns.
Todas as vezes em que eu chegava em um congresso, algo se repetia: quando me apresentava como doutorando da Metodista, alguém perguntava: “você é aluno do professor Mendonça”? “A gente usa muitos textos dele aqui em nosso curso”. Só o fato de ser aluno do Mendonça já era um cartão de visitas!
Duas coisas me ocorrem quando me lembro desses fatos: aquele professor do “10 com louvor” nunca foi citado em nenhum dos congressos em que participei (e olha que foram muitos…); a lembrança mais marcante que tenho do Mendonça, esses sim valorizado por onde eu passei, é a sua simplicidade.
Penso que é sempre melhor quando quem fala bem da gente são os outros, e não nós mesmos! Assim era com o Mendonça.