Depois de passar 102 dias isolada em uma toca desde que nasceu, Nur, a primeira ursa polar nascida no Brasil e na América Latina, foi apresentada ao público na última quinta-feira (27/02) no Aquário de São Paulo. O nome Nur, significa “luz” em árabe; seu nascimento aconteceu na manhã de 17 de novembro do ano anterior, mas divulgado apenas em fevereiro de 2025.
Logo após o parto, Nur e sua mãe, Aurora, permaneceram em isolamento em uma toca escura. Nascida com cerca de 400 gramas, a pequena ursa agora pesa 7 quilos e acompanha todos os passos da mãe em um espaço mantido a temperaturas em torno de 4 °C. Apesar de hesitar ao entrar na água, situação considerada comum segundo os veterinários, Nur deve aprender a nadar em poucos meses, imitando os movimentos da mãe. “A chegada de Nur ajudará a conscientizar o público sobre a preservação ambiental, reforçando nosso compromisso com a conservação”, comentou Anael Fahel, diretor do Aquário de São Paulo.
Especialistas confirmam que Nur é o primeiro filhote de urso polar registrado oficialmente na América Latina. A bebê ursa é fruto da união de Aurora e Peregrino, um casal de ursos que vive no Aquário paulista há uma década. Aurora havia dado à luz anteriormente, em 2023, mas o filhote não sobreviveu aos primeiros dias, destacando o desafio crítico da reprodução dos ursos polares, uma espécie cuja taxa de mortalidade nos primeiros meses de vida é alta. Segundo um estudo publicado no Canadian Journal of Zoology, cerca de 44% dos ursos polares não chegam a completar um ano.
Nur foi o sexto filhote de sua espécie registrado no mundo em 2024, após quatro nascimentos na Rússia e um na Alemanha. Aurora, que desde o parto não havia se alimentado, começa agora a cuidar de sua própria nutrição novamente, enquanto Nur, que exclusivamente consumia leite materno até então, terá seu primeiro contato com alimentos sólidos através da interação com a mãe, como ensinou a veterinária-chefe do Aquário, Laura Reisfeld.
Reisfeld também explicou que os primeiros meses de vida de Nur foram os mais delicados, período em que filhotes de ursos polares são mais vulneráveis e podem até ser rejeitados por suas mães. Felizmente, Aurora demonstrou dedicação instintiva desde o início. “Ver Nur saindo da toca na Semana do Urso Polar foi um presente. Foi um momento emocionante para toda a equipe, tanto pelo vínculo com os animais quanto pela relevância histórica da sua chegada para a conservação da espécie.”
O nascimento de Nur será usado como um caso de estudo para reprodução e preservação de ursos polares, fornecendo referências importantes para instituições ao redor do mundo. Em consonância com isso, Alexander Malev, vice-diretor do zoológico russo de Kazan, compartilhou que o aquecimento global pode reduzir a população de ursos polares em até 30% e que nascimentos como o de Nur são essenciais para sensibilizar a sociedade sobre o impacto das mudanças climáticas.
Embora Aurora não tenha os instintos necessários para ensinar Nur a caçar, devido ao fato de ter sido resgatada órfã ainda filhote, Malev destacou que projetos como o do Aquário de São Paulo demonstram compromisso com a proteção da espécie. Inicialmente alvo de críticas de grupos ambientalistas, o aquário ajustou sua estrutura aos padrões exigidos pelo IBAMA, incluindo um tanque com 1 milhão de litros de água refrigerada e um teto retrátil para proporcionar luz solar em períodos mais frios, além de reforçar ações de educação ambiental.
O nascimento de Nur gerou não só entusiasmo entre os funcionários do Aquário como também atraiu grande atenção do público, com expectativa de receber até 4 mil visitantes por dia. A chegada de Nur e seu impacto positivo na conscientização ambiental destacam a importância de preservar a espécie em meio às adversidades impostas pelo homem e pelas mudanças climáticas. Mesmo que ela e Aurora jamais possam retornar ao Ártico, devido à falta de habilidades naturais essenciais, como a caça, sua história se torna um símbolo de resiliência e responsabilidade com a fauna ameaçada.