23 de julho de 2025
quarta-feira, 23 de julho de 2025

Mais da metade dos rios brasileiros perde água para o subsolo, alerta estudo

Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com cientistas dos Estados Unidos, revelou que mais da metade dos rios brasileiros está perdendo água para o subsolo devido à perfuração excessiva de poços. Publicado na revista Nature Communications em dezembro de 2024, o levantamento analisou 17.972 poços em todo o país e constatou que 55% deles estão com níveis de água abaixo das superfícies dos rios próximos, o que faz com que a água dos rios penetre no subsolo, reduzindo seu fluxo.

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O fenômeno, conhecido como “rios perdedores”, é mais grave em regiões secas e de intensa atividade agropecuária, como o Matopiba (que engloba partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). A pesquisa aponta que o uso excessivo de água subterrânea para irrigação é um dos principais fatores por trás do problema. “Em algumas regiões, mais de 60% dos rios estão perdendo água para o aquífero”, explica José Gescilam Uchôa, doutorando da USP e primeiro autor do estudo.

A bacia do rio São Francisco é uma das mais afetadas, com 61% dos rios analisados apresentando risco de perda de vazão. O aquífero Urucuia, o segundo maior do Brasil, localizado no oeste da Bahia, também sofre pressão devido ao aumento de outorgas para captação de água subterrânea, principalmente para o agronegócio. Margareth Maia, pesquisadora do Instituto Mãos da Terra (Imaterra), alerta que a exploração descontrolada pode levar ao esgotamento dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos.

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Impactos na agricultura familiar e no meio ambiente
A redução da vazão dos rios já afeta comunidades rurais, especialmente na região do Matopiba. Pequenos agricultores, como os do oeste baiano, enfrentam dificuldades para manter suas plantações devido à escassez hídrica. Marcos Rogério Beltrão, morador de Correntina (BA), relata que riachos e veredas que antes abasteciam as comunidades secaram, obrigando os agricultores a dependerem do rio principal ou de cisternas. “Hoje, muitas comunidades têm que beber água do rio Arrojado, que antes era alimentado por pequenos riachos”, diz Beltrão.

O avanço do agronegócio na região, com o uso de pivôs centrais para irrigação, agrava a situação. Esses sistemas consomem cerca de 50 mil litros de água por hectare por dia, enquanto uma pessoa precisa de apenas 110 litros diários para suas necessidades básicas, segundo a ONU. Em 2023, o município de São Desidério (BA), líder em área irrigada por pivôs no país, teve mais de 53% de seu território ocupado por plantações de soja, contribuindo para o desmatamento e a escassez hídrica.

Repercussões globais e necessidade de ações urgentes
O estudo alerta que a perda de água dos rios não afeta apenas as comunidades locais, mas também pode ter impactos em larga escala, já que o Brasil é um dos maiores produtores agrícolas do mundo. A pesquisa sugere a necessidade de estudos preliminares para avaliar a viabilidade de atividades agrícolas em regiões críticas e a implementação de práticas de uso eficiente da água.

Paulo Tarso Sanches de Oliveira, professor de hidrologia da UFMS e coautor do estudo, ressalta que a falta de regulamentação e fiscalização na captação de água subterrânea contribui para o agravamento do problema. “É essencial integrar a gestão das águas superficiais e subterrâneas e monitorar constantemente os níveis dos rios e poços”, afirma.

Sem medidas concretas, a tendência é que a situação se agrave, colocando em risco o abastecimento de água, a biodiversidade e a segurança hídrica do país. A pesquisa reforça a urgência de políticas públicas que equilibrem o desenvolvimento agrícola com a preservação dos recursos hídricos, garantindo a sustentabilidade a longo prazo.

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