Já havia se passado uma semana desde que seus pais disseram que elas iriam morar nesses novos dormitórios do colégio Caravaggio, mas até agora nem Gabriela nem Laura conseguiam acreditar que eles haviam concordado com isso. E para piorar, parece que elas não eram as únicas; afinal, o grupo da sala estava uma loucura, com todos os seus colegas e amigos dizendo que seus pais também haviam concordado com aquele plano maluco.
– Não sei por que vocês estão tão preocupadas, essa é uma chance de ouro para vocês e seus amigos começarem a ser independentes, morando sozinhos e aprendendo um pouco das dificuldades da vida – disse o pai delas enquanto ajudava a empacotar as coisas que iam levar na mudança. Hoje seria o dia em que as gêmeas iam se mudar junto com seus amigos para o dormitório e teriam o dia todo para reformar seus quartos. – Além disso, tenho certeza de que vocês estarão muito seguras, afinal o coordenador Vinicius e o diretor Vander nos prometeram que o dono da escola contratou a melhor equipe de segurança do país.
“Como diabos vocês querem que a gente se sinta segura nos obrigando a ficar naquele local, o mesmo em que quase fomos assassinadas e depois fomos obrigadas a ver uma mulher cortando a própria garganta enquanto sorria que nem uma maluca?” – pensou Gabriela enquanto levava as caixas com suas roupas até o porta-malas do carro. Honestamente, ela não sabia o que sentir naquele momento, talvez frustração, ou até mesmo medo por ser obrigada a ficar naquele local. Porém, ela também não queria iniciar uma discussão com seus pais, então Gabriela resolveu pensar em um detalhe importante que seu pai falou, mais especificamente sobre o dono da escola.
Sim, era assim que todos o chamavam, até mesmo os professores, o coordenador e o próprio diretor, a verdade era que ninguém sabia exatamente quem era o dono do colégio Caravaggio, nem mesmo seu nome ou qualquer tipo de apelido eram conhecidos; as pessoas apenas o chamavam de “O dono do Colégio”. Bom, levando em consideração a arquitetura grandiosa, a alta tecnologia presente nos laboratórios e o alto salário que pagava para seus funcionários, Gabriela e Laura sabiam que o dono definitivamente era alguém rico, mas não apenas um rico qualquer, alguém absurdamente rico que por algum motivo resolveu investir rios de dinheiro em um colégio que obviamente não dava muitos retornos financeiros.
E o motivo delas saberem desse último detalhe era que a maioria dos alunos era bolsista e eram poucos aqueles que pagavam a mensalidade completa. Além disso, o processo de entrar no colégio Caravaggio era uma bagunça, afinal não era só fazer a matrícula, pagar e entrar. Antes de você sequer pensar em mensalidades ou matrículas, os alunos precisavam fazer uma espécie de vestibular para aí sim conseguirem ganhar uma chance de fazer a matrícula.
E como essas provas funcionavam? Bom, está aí outro processo complicado. No início, Gabriela e Laura achavam que apenas os que tiravam as melhores notas passavam e ganhavam o direito de ter uma matrícula, mas não. Aliás, tinha gente da própria sala delas que quase zerou as provas e mesmo assim ganhou uma matrícula. Por isso ninguém sabia exatamente qual era o critério para entrar no colégio Caravaggio. A única coisa que todos sabiam era que entrar nesse colégio era sinônimo de sucesso na vida, e isso não se limitava apenas aos cursos mais tradicionais, como medicina ou direito, mas sim em todas as áreas, desde grandes chefes culinários que se formaram lá até mesmo grandes artistas que também tiveram sua passagem naquele colégio.
Honestamente, desde o início aquele colégio era um local muito estranho, mas foi apenas após aquele incidente que Gabriela e Laura começaram a perceber isso. Afinal, além do estranho processo de se conseguir entrar lá, outra coisa que elas começaram a pensar era o quanto as estatuas e pinturas presentes em todo colégio eram esquisitas; as estátuas não eram de nenhuma figura histórica ou mitológica, pelo menos nenhuma que elas conseguiam reconhecer. Já as pinturas sempre tinham a presença de diversos e estranhos olhos azuis que eram tão claros que pareciam ser feitos de vidro.
Porém, mesmo com toda aquela estranheza e desconforto que estavam sentindo, os pais de Laura e Gabriela insistiram que era uma boa ideia essa coisa dos dormitórios e de continuarem naquele local. Então, naquele momento, eles estavam no carro indo até o colégio para começar a mudança.
No caminho, enquanto olhava pela janela do carro, Gabriela pensou na estranha conversa que teve com Giovanna na semana passada e toda aquela história de grandes mudanças catastróficas que iriam acontecer com elas e sobre todo aquele papo de cartas de tarô prevendo o futuro. Acontece que nem Gabriela nem ninguém de sua família era muito religioso e nem supersticioso, seus pais não acreditavam nessas coisas e por isso ela e sua irmã foram criadas sem esse peso. Mas levando em conta tudo que aconteceu, a intuição de Gabriela dizia para ela que o aviso de Giovanna deveria ser levado a sério. E se tinha algo que Gabriela se orgulhava era que seus instintos e sua intuição sempre estavam certos, por mais absurdo que eles parecessem em algumas situações.
Enfim, chegaram aos novos dormitórios da Escola Caravaggio e, sinceramente, aquilo era de fato impressionante. Afinal, aquilo não era um simples dormitório escolar igual aos que vemos em filmes; não, aquilo era um edifício de luxo onde cada aluno tinha direito de ter um espaço particular tão grande que parecia até um apartamento particular. Os “quartos” tinham, além de um espaço para cama, armário e mini escritório, também uma mini cozinha com tudo incluído, banheiros e lavanderias particulares, além de uma varanda espaçosa e eles tinham permissão de trazer seus animais de estimação. Essa última parte deixou as gêmeas muito felizes, afinal elas não queriam ficar longe de seus amados animais de estimação. Laura tinha um pequeno gato branco chamado Pólux e um grande cachorro preto vira-lata chamado Castor, enquanto isso Gabriela tinha uma coruja da espécie orelhuda macho chamada Ganimedes.
O resto do dia foi elas e o resto da turma mudando suas coisas e decorando seus apartamentos do jeito que queriam com a ajuda de uma equipe contratada pelo colégio, e foi muito divertido fazer tudo aquilo, afinal eles tinham a liberdade de decorar do jeito que queriam. Mas mesmo toda essa diversão não foi o suficiente para impedir que Gabriela ainda sentisse aquela sensação de que algo de ruim iria acontecer.
Então, enfim, chegou à noite. Todos estavam cansados e já estavam em seus quartos para dormir, mas infelizmente Gabriela teve que atrasar o seu descanso quando ouviu seu celular tocando. Giovanna havia mandado uma mensagem para ela que simplesmente dizia: “Precisamos conversar, por favor, venha para o meu quarto”. Gabriela estranhou um pouco aquilo, mas sua intuição dizia que ela deveria sim se encontrar com Giovanna, e assim no meio da noite, quando todos já estavam dormindo, ela foi até o quarto de sua colega, sem saber o quanto o seu destino iria se mudar após saber todas as verdades que Giovanna tinha para revelar.