Começamos uma nova fase no mês de dezembro! Este tema marca o início de um ciclo
de entrevistas com mulheres poderosas e atuantes no mercado da construção civil e gestão
de projetos. Empreender é sempre um desafio, e é nos bastidores que tudo realmente
acontece.
Para compreender melhor e mostrar às pessoas como esse universo funciona, trouxemos
aqui um trecho da entrevista realizada com uma profissional excelente, que atua no
mercado da Grande Vitória. Ela compartilha sua visão sobre o mercado em 2024 e reflete
sobre diversos temas, como desenvolvimento urbano, empreendedorismo, trajetória
pessoal, entre outros assuntos relevantes.
Confira a entrevista a seguir:
“Sou Kamylla Kefler de Oliveira, tenho 28 anos e sou designer de interiores coespecialização em gestão de obras. Minha paixão é transformar espaços, trazendo soluções práticas e estéticas, e desde 2019 venho trilhando meu caminho como autônoma, focada em reformas residenciais e comerciais. Mas minha trajetória começou bem antes disso, lá em 2016, atuando como CLT em escritórios do setor.
Foi nesse período inicial que descobri algumas das minhas maiores forças: a resiliência, a capacidade de adaptação e o meu lado resolutivo. Esses anos foram uma escola para mim,
especialmente no aprendizado sobre processos e gestão de equipes, algo essencial na
minha área, mas muitas vezes subestimado.
Trabalhar em um escritório me deu coragem para empreender, porque entendi que, mais do que criar projetos bonitos, o sucesso depende de habilidades que só o tempo e a experiência podem trazer.
Ser autônoma tem seus desafios, e o principal deles é a captação de clientes. Em um
mercado onde o preço ainda fala mais alto do que a qualidade, muitas pessoas só
percebem a importância de um trabalho bem executado quando enfrentam problemas
durante a obra. E, infelizmente, há quem acredite que “um desenho” resolve tudo, sem
entender o verdadeiro valor da expertise profissional.
Além disso, como mulher, preciso constantemente provar minha competência,
principalmente em ambientes predominantemente masculinos, como canteiros de obras.
Há uma pressão enorme para ser firme sem parecer desequilibrada, o que pode levar à
desvalorização imediata, independentemente de todo o trabalho que você já entregou.
Meu maior desafio até hoje foi gerenciar minha primeira obra solo. Foi quando percebi
que a teoria é uma coisa e a prática é outra bem diferente. Lidar simultaneamente com
prazos, orçamentos, contratações, entrega de materiais, qualidade de execução e tantos
outros fatores foi um divisor de águas na minha carreira. Foi desafiador, mas me ensinou
muito sobre a complexidade da nossa profissão.
Trabalhar em home office tem sido uma alternativa eficiente. Consigo apresentar projetos
online, o que facilita a vida dos clientes e otimiza o tempo para decisões pontuais, que
geralmente são tomadas presencialmente na obra ou em lojas especializadas. Essa
flexibilidade é uma vantagem tanto para mim quanto para quem contrata meus serviços.
Acredito que o maior obstáculo da nossa área é o entendimento do público sobre a
importância de contratar um profissional. Muitos só enxergam o valor de um designer
após vivenciarem os benefícios, como a valorização do imóvel, a economia de materiais
e a redução de erros e retrabalhos.
Quanto ao cenário maior, não vejo incentivos significativos por parte do Estado ou do
município para facilitar o trabalho de profissionais como eu. Por outro lado, o
investimento no desenvolvimento urbano sempre impacta a construção civil, gerando
novas demandas e oportunidades. Porém, esse desenvolvimento precisa ser bem
planejado para evitar desigualdades e problemas como o adensamento populacional
desordenado.
Este ano de 2024 trouxe resultados positivos, mesmo com uma desaceleração no final do
ano, que fugiu do padrão de anos anteriores. Ainda assim, foi um período de realizações.
Para 2025, espero que o mercado continue aquecido, com mais pessoas percebendo o
verdadeiro valor de um profissional especializado, seja para um pequeno ajuste ou uma
grande reforma.
Cada projeto é um desafio, mas também é uma oportunidade de mostrar que design não
é apenas estética; é planejamento, solução e entrega de qualidade. É isso que me move, e
é isso que espero levar adiante no próximo ano.”
Podemos observar que o cenário é desafiador, mas também gratificante, são relatos como
esse que nos ajudam a entender como o mercado funciona, assim como nos auxilia a
compreender os desafios encontrados pela mulher empreendedora no ramo da construção
civil e dos projetos civis.