O IMC – Índice de Massa Corporal – não combina com você! A não ser que você seja um homem branco europeu. Nem precisa pesquisar muito, por exemplo, o Portal Drauzio Varella na UOL publicou um artigo dizendo “IMC: Por que a fórmula não é suficiente para determinar quadro nutricional?”, enquanto na Veja o artigo já começa com o título “Por que você não deveria se importar tanto com o IMC”. A área da saúde ainda traz novas descobertas, tratamentos que eram revolucionários se mostram por vezes ineficientes, ou até violentos – a lobotomia, como uma parte do título do artigo da BBC diz, era considerado “mais fácil do que tratar uma dor de dente”.
Voltando ao índice, você sabia que quem idealizou e formulou o IMC era um astrônomo? Não só isso, Lambert Adolphe Quetelet foi matemático, demógrafo, estatístico e sociólogo do século XIX. E aqui cito o artigo dAzMina, Quetelet “estava em busca do homem ‘normal’ – ou seja, não tinha nada a ver com medir saúde”. A base para o cálculo foram homens brancos europeus. Você é um homem branco europeu?
A explanação das jornalistas dAzMina vai mais longe, tendo até um vídeo no YouTube, o título já diz a que veio: “Saúde? O IMC é um cálculo machista e racista”
Não é segredo pra ninguém a imensa variedade de cursos online para emagrecer, os serviços de profissionais como coaches “da saúde”, personal trainers, além das dicas de saúde disseminada por influenciadores, como saiu no Hugo Gloss que a “Virgínia conta o que fez para emagrecer 20kg dois meses após nascimento do terceiro filho”.
Já tem um bom tempo que vivemos uma “Ditadura da Magreza”, existem estudos sobre o tema que relacionam com o aumento da gordofobia, além de outros comportamentos destrutivos. O assunto não é novo, uma entrevista com Alexandra Magna Rodrigues, cedida à Revista Ceres da UERJ, já carregava o nome de “Ditadura da Magreza”. O Canal Brasil publicou há dois anos um vídeo intitulado “O impacto da ditadura da magreza e da gordofobia na vida da mulher”.
Conteúdo e informação não faltam! Mas por que somos tão afetados pela “magreza”, o ideal do corpo? A cobrança, principalmente sobre as mulheres, é insana, o que reafirma um padrão estético que nada tem haver com saúde. Basta ver manchetes como “Seminua, Mayra Cardi impressiona seguidores e rebate críticas sobre sua magreza: ‘nunca tiva gordura”. Ou até nos comentários da volta do desfile da Victoria’s Secret, retorno “após críticas de sexismo e falta de diversidade” (BBC News), ou “Victoria’s Secrete marca retorno à passarela com angels brasileiras, diversidade de corpos e Cher” (Folha de São Paulo).
Quando o corpo dissidente é colocado em local de destaque as impressões sempre serão “diversidade”, mas uma diversidade que ainda assim não foge muito do padrão, ou você acha que Gigi Hadid, Bella Hadid, Vittoria Ceretti, Carla Bruni e Kate Moss são mulheres fora do padrão de beleza definido pela indústria? Podemos até argumentar que Kate Moss, com 50 anos, estar desfilando é algo inédito, porque a indústria da beleza descarta mulheres rapidamente ao tempo que elas envelhecem e isso vale para a indústria cinematográfica e da música.
Se ainda assim você não se der por convencido(a), indico a entrevista de Kendrin Sonneville, professor de Ciência Nutricionais da Universidade de Michigan à BBC News, o artigo se chama “Índice de massa corporal: por que método para definir obesidade por estar errado”. Sonneville diz que “você não pode interpretar nada sobre a saúde de alguém apenas olhando para o IMC. […] Na época que criou seu índice, Quetelet não tinha interesse em obesidade, sua preocupação era definir as características do ‘homem normal’ e adequar a distribuição à regra”.
E não é a primeira vez que as mulheres e os negros são deixados de lado, principalmente em estudos eurocentricos. Mas pensar em uma saúde, seja ela física ou mental, convenhamos não cabe num cálculo básico de altura e peso, cada corpo tem suas características, cada pessoa é única e não vai ser um europeu que vai dizer o que é melhor para todo mundo.