Ao longo da história, o amor muitas vezes foi romantizado com a ideia de que a mulher precisa ser a cuidadora, de que precisa ser a mãe do namorado ou marido. Essa narrativa é profundamente patriarcal e capitalista, para manter mulheres em espaços que sejam subjugados e submissos a quem tem real poder, ou seja, os homens. Isso ignora uma verdade fundamental para quem tem ou teve algum relacionamento amoroso: amar não é sinônimo de sacrificar a própria identidade, desejos, aspirações ou direitos em prol de outrem. Desconstruir a forma que nós, mulheres, fomos ensinadas a amar, é um exercício constante de amor próprio, de autopreservação e de autoconhecimento. Afinal, amar de verdade é mais parecido com companheirismo do que com um “papel de mãe”.
Falar é fácil, mas o que é companheirismo? Companheirismo implica um espaço seguro onde as duas partes podem crescer e evoluir juntas. É sobre compartilhar interesses, desafios e alegrias, onde ambos se apoiam e se incentivam a serem suas melhores versões. Nesse contexto, o relacionamento se torna um espaço de troca, e não uma balança desigual, onde um lado carrega o peso do outro.
Você pode ter ouvido ou lido em algum lugar que as mulheres precisam se empoderar, que precisam reconhecer seus valores como pessoas que também merecem amor e cuidado. Só isso é muito pouco, continua um discurso vazio e individualista sobre um problema que é crônico da nossa sociedade, que merece uma solução coletiva. Ninguém muda nada sozinho/a.
Se empoderar é importante para não cair na espiral de ser a “cuidadora” da casa, dos filhos e do marido. Quando nos sentimos empoderadas, começamos a exigir um relacionamento que respeite e valorize nossas vidas, nossos corpos, nossos desejos, nossas ideias. Mas será que só isso já cria um novo padrão de amar que seja justo e equilibrado?
Todo padrão é fadado ao fracasso, o que funcionava há 30 anos, não funciona para o hoje! E quando se fala de comportamento humano nem precisa falar de muitos anos. Nós mudamos constantemente, nossos comportamentos são aprendidos, e hoje até são moldados pelas redes sociais, basta ver como crianças têm facilidade com tecnologia, enquanto idosos ou adultos não têm a mesma afinidade ou facilidade.
Se um “padrão” não funciona, o quê fazer? De fato há um paradigma em amar, ainda mais nos tempos de capitalismo realismo. Confunde-se amor com desvalorização do trabalho de cuidado, majoritariamente realizado por mulheres. Então o amor tem uma profunda implicação econômica, que pode reforçar aquela ideia de que “o homem é o cabeça da casa”, “o provedor”, apesar da imensa maioria das famílias brasileiras serem lideradas por mulheres, principalmente mulheres negras, e muitas vezes mães solos.
Para falar de um amor verdadeiro, é preciso também falar de equidade racial e de gênero. Resumindo, amar implica um compromisso com o crescimento mútuo, respeito e uma tremenda desconstrução anticapitalista e antirracista.