Tinha uma propaganda de um iogurte famoso, acho que foi lançada na década de 90, enfim, que tinha como trilha sonora a música do kid abelha, que cantava: “dizer não é dizer sim, saber o que é bom pra mim”. E, como fui uma criança e adolescente obesa, sempre achei que o “dizer não e dizer sim” só tinha a ver com aquilo que a gente come, com o doce que a gente evita comer, com a dieta e assim por diante.
Com o tempo, eu descobri que o “sim ” era exatamente para dizer “não” e dizer “sim” àquilo que a gente comia, mas principalmente para dizer “não” e dizer “sim” para várias questões que não são postas durante a vida.
No final do ano retrasado, fim de 2022, comecei a fazer terapia. Um dos primeiros assuntos que tratei na terapia foi a minha dificuldade em dizer “não”. Mesmo quando esse “não” era um “sim” para mim. Quando ele significava que eu ia deixar de fazer alguma coisa, ou tomar outro caminho em prol do meu bem-estar, em prol daquilo que eu queria para mim.
E, bom, na terapia, foram-me feitas diversas provocações, por exemplo, se o fato d’eu sempre dizer “sim” tinha a ver com o processo de aceitação -de tentar fazer com que outras pessoas me aceitassem-, exatamente por conta da baixa autoestima, pois eu era obesa. Além da terapeuta, uma amiga também já havia me dito que eu não negava coisas para as pessoas porque eu não gostava de me indispor com outros.
A partir disso, eu comecei a refletir os porquês dos “sims” que dei várias vezes, mesmo quando não queria, e da dificuldade de dizer “não”. Particularmente, a minha dificuldade em dizer “não” era grande, não sei se para todos, mas na minha cabeça, por amor, por cuidado, por respeito, mas acredito que realmente era um processo aceitação, buscando não contrariar ninguém que eu gostasse, almejando uma validação desnecessária.
Nesse processo, eu descobri que tão difícil quanto dizer “não” a uma cerveja e um torresminho que gosto de comer na mesa de um boteco com amigos em uma boa resenha, era dizer “não” para aquilo que não me faria bem, mesmo que a proposta fosse trazida por um amigo, por um amigo, por um familiar, por um desconhecido e assim por diante.
Com isso, além de constatar que precisava de exercício físico, juntamente com o “não” a cervejinha para poder perder peso, dizer “não” também é um exercício, um exercício diário, um exercício de erros e acertos, um exercício que, mesmo que a gente saiba que o “não” precisa ser dado, a gente ainda diz um “sim” contrariado. No meu caso, fico arrastando correntes por alguns dias, arrependendo-me daquele “sim” que foi dito e fico me cobrando também por conta daquele “sim” que eu dei, porque eu sabia que o correto a dizer naquele momento era um “não”.
Atualmente, caminho nesse processo infindo de dizer “sim” para mim e de seguir dizendo “não” aos poucos, para coisas e pessoas que não me fazem bem, para propostas que não me agradam, que não me interessam. Acho que no dia-a-dia estou aprendendo que, mais importante do que dizer “sim” para agradar alguém, é dizer “sim” para mim e não para quem acha haver apenas um caminho, fala e proposta certa.
Como eu disse, é um exercício, passei 40 (quase 50 anos) da minha vida praticando um exercício da forma errada, dizer “sim” independentemente se aquela era minha vontade ou não. Hoje, sigo nesses um ano e poucos praticando um exercício que com certeza será melhor para mim: o exercício de me priorizar, de me respeitar, de me amar e me querer acima de tudo.