Por que pessoas transexuais e travestis incomodam tanto?
Pelo décimo quarto ano seguido o Brasil ocupa a nefasta lista de lugar extremamente inseguro para trans e travestis no mundo. Já são 14 anos sendo o país que mais mata essa população no mundo.
Alguns avanços foram alcançados, é fato. Temos mais representatividade e algumas políticas afirmativas esparsas, mas as nossas continuam sendo espancadas e mortas.
Cada passo de avanço ocorre com muito esforço, entretanto, o retrocesso é a galope. No início do ano o Governo Federal havia informado que a nova carteira de identidade contaria com o campo de nome social e não o nome de registro, bem como omitiria o campo “sexo”. Mas o presente de mau gosto de natal chegou com a informação de que o governo decidiu por ignorar as recomendações do Grupo de Trabalho – GT – instituído por ele para análise do melhor modelo pertinente.
Com isso, o Governo Federal já iniciou a emissão do documento, na contramão das suas posições ditas mais inclusivas e seguindo a versão lançada anteriormente pelo presidente inelegível.
Mas porque contrariar o GT, o pleito da comunidade LGBTQIAPN+ e os movimentos de Direitos Humanos? Não existe justificativa plausível. Na verdade o governo não deu qualquer justificativa e não podemos chamar a atitude de outra coisa a não ser de transfóbica. Isto porque, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais – Antra, 65% das pessoas trans não conseguiram a retificação de seus documentos, seja por conta dos custos elevados, burocracia ou transfobia nos espaços institucionais.
Ter apenas o nome social no documento e omitir o campo “sexo” são barreiras contra constrangimentos e violência institucional. O nome civil para pessoas trans é uma violência que as pessoas cisgênero jamais vão sentir e sua manutenção no documento não traz qualquer benefício. Do mesmo modo o campo “sexo”, o qual jamais havia aparecido em versões anteriores. Ambos mantêm a brecha para violações de Direitos Humanos.
Mas porque a Travesti incomoda tanto? O corpo dissidente da pessoa trans e ou travesti parece desafiar a “ordem”. Isto, pois a chamada deserção da masculinidade, a dita abdicação do conjunto de privilégio dos homens na sociedade seria um “crime imperdoável”, digno de pena capital.
Inclusive a ideia de que a transfobia seria culpa do enrustido desabona os heterossexuais e isso é um caminho muito ruim. A culpa não é nossa.
Eles odeiam os desviados. Quando são questionados, sequer sabem explicar a razão.
Em geral, eles lançam mão de uma suposta proteção às nossas crianças. Mas lembrem-se: crianças trans existem e elas existem mesmo em famílias de pais heterossexuais que nunca tiveram contato com pessoas trans e travestis, portanto cai por terra qualquer argumento sobre influência.
Ah, e mesmo existindo crianças trans, a medicina não faz qualquer intervenção hormonal ou corporal nessas crianças. Parem de acreditar em balela de conservador de internet que só quer causar.
Para você que chegou até aqui, parabéns! A maioria só lê título e olha figuras. Aliás, convido você para ler mais sobre o tema. Saia do zap e se informe com autores renomados sobre o tema. Deixo aqui abaixo algumas indicações:
Olhares de Claudia Wonder: crônicas e outras histórias (Claudia Wonder)
Cidadania trans: o acesso à cidadania por travestis e transexuais no Brasil (Caio Benevides Pedra),
Transfeminismo (Letícia Nascimento)
Muchacha (Laerte)
Boa leitura!