Ana Carolina era uma bela jovem de 22 anos que naquele momento estava em uma exposição de arte que estava acontecendo no Centro de Vitória no teatro do Sesc Glória, não porque era uma grande fã das artes, mas porque o seu namorado Luís era obcecado por artes, apesar de não ser um artista e nem estudante de alguma área artística.
Marcelo era o que muitos chamariam de um palestrinha, afinal, ele adorava falar e se gabar de seus conhecimentos e de seus gostos “únicos” pela arte, se sentindo levemente superior as outras pessoas por causa disso.
Apesar dessa parte da personalidade de Luís ser bastante irritante, Ana Carolina não tinha nenhum problema em ir a essas exposições apenas para agradar o namorado que tanto amava, mesmo muitos conhecidos dizendo que isso era meio controlador da parte dele.
Essa exposição que ambos estavam agora não chamou a atenção só dos amantes de artes, mas também de uma grande parte da imprensa nacional e até internacional. O motivo daquilo era que o governo estadual havia revelado que tinham algumas obras nunca vistas pelo público em sua posse, mas que agora iria liberar o acesso a essas raridades por meio de uma exposição gratuita.
Então lá estavam eles, no meio de belas obras de artes de diferentes épocas, era quase como se você pudesse sentir e ver a história do Espírito Santo e até do Brasil através das artes. A exposição não contava com apenas peças de artistas capixabas, mas também do país todo e até de algumas portuguesas, tinha de tudo lá, era realmente um ambiente incrível em que se podia sentir a arte em todo lugar.
Ana Carolina estava vendo alguns quadros quando percebeu que o seu namorado havia se afastado dela há muito tempo e que não havia nem sinal dele, preocupada, ela começou a tentar achá-lo. Não foi preciso uma grande procura, afinal, Luís estava parado em frete a uma grande pintura.
Uma pintura que mudou a vida dele e de sua namorada para sempre.
Essa bela pintura era um autorretrato de uma artista desconhecida do século 19, o seu nome era Ana Caroline de Luca. O retrato mostrava uma jovem de longos e ondulados cabelos castanhos escuros, pele morena e os olhos mais sedutores que um ser humano poderia ter, mas o mais impressionante era o fato de que ela, era igual a Ana Carolina.
Marcelo olhava para aquela pintura com amor e desejo, afinal mesmo que a pintora e sua namorada fossem basicamente iguais, havia algo naquela única pintura que o fez sentir coisas que Ana Carolina nunca havia conseguido. Mas enquanto ele via apenas a beleza do quadro e da pintora, sua namorada sentia o extremo oposto.
Ana Carolina olhava para aquele quadro com nojo e com medo, não sabia o porquê, mas sentia como se aquilo anunciasse sua morte, ela queria ficar longe daquela bizarra pintura que parecia ser um espelho em tinta de sua própria imagem.
Mesmo depois de saírem da exposição, Luís continuava obcecado com a pintura e com Ana Caroline, então nos dias seguintes passou horas pesquisando mais sobre ela ou indo de novo para exposição. Ele acabou se afastando de tudo e de todos, até mesmo de sua namorada Ana Carolina, que a cada dia que passava ficava mais frustrada e triste.
Seu namorado não a amava mais, mas sim uma versão idealizada de uma pintura que se parecia com ela, não ajudou o fato de que aparentemente Ana Caroline em vida gostava das mesmas coisas que Luís. Ela também amava as artes e também tinha uma certa personalidade narcisista, era basicamente a namorada perfeita que Ana Carolina nunca conseguiria ser.
Então frustrada e de coração partido ela resolveu terminar com Luís, ele não se importou, afinal tudo que importava naquele momento eram suas doces ilusões com Ana Caroline.
Alguns dias depois, os vizinhos de Ana ouviram gritos vindo do apartamento dela e chamaram a polícia.
Quando os policiais abriram as portas do apartamento a primeira coisa que viram foi um lindo gato branco de longos pelos e olhos arco-íris, mas a beleza daquele gato foi ofuscada por uma cena bastante perturbadora.
Luís estava segurando o corpo morto do Ana Carolina, que pela quantidade de sangue que tinha tanto neles quanto no chão, haviam sofrido várias facadas violentas.
– Eles me tiraram de Ana Caroline, me disseram que o governo estadual permitiu que levassem o quadro dela até o Rio de Janeiro para ficar em um exposição de lá temporariamente – disse Luís de repente, sua voz estava calma e estranhamente doce – mas o tempo longe dela é agonizante, então tive que ver a outra versão dela, mas ao ver o rosto dessa farsante me senti enojado, então tive que dar fim a tudo que tentava porcamente imitar a perfeição.
Medos e obsessoes: doença hereditária, conto bastante interessante. Bem redigido, conteudo de fácil compreensão!Parabéns para a jovem escritora, confesso que já sou super fã de Anna Terra!
Fiquei arrepiada com essa trama. Aguardo ansiosamente a continuação para desvendar o papel desse gato branco.
Muito interessante, prende a atenção e arrepia o desfecho.
Otimo conto. Idealizar é sempre uma tragedia
Conto de fácil leitura, bom enredo, prende o leitor até o seu final. Entretanto, o conteúdo nos faz refletir sobre esta obsessão de uma pintura substituir uma pessoa, chegando ao extremo de causar um assassinato.
Parabéns!!