A Prefeitura de Eldorado, cidade paulista onde Jair Bolsonaro (PL) passou a juventude, diz que abriu uma apuração sobre o caso de um motorista do funcionalismo municipal que esteve nos atos golpistas em Brasília no dia 8. O prefeito Dinoel Rocha é do PL, mesmo partido do ex-presidente.
Eliseu Trindade, que é servidor concursado, relatou em um grupo de WhatsApp local que chegou a ser detido em frente ao Quartel-General do Exército. Imagens dele no acampamento bolsonarista circularam entre moradores. Outros apoiadores do ex-presidente no Vale do Ribeira, região onde o político viveu da infância até os 18 anos, também viajaram de ônibus para a capital federal.
A prefeitura disse, que não recebeu “nenhuma denúncia formal que envolva a participação de servidores” no levante, mas tomou conhecimento do caso de Trindade por meio de redes sociais.
“Foi determinado que seja averiguado e feito acompanhamento, junto às esferas federais, dos desdobramentos de sua participação nos atos supracitados, para que sejam adotadas medidas administrativas cabíveis, garantindo ampla defesa, lisura do processo e responsabilização no rigor da lei.”
A gestão informou ainda que registrou as faltas do servidor no período da viagem, “dias esses que serão descontados de seu vencimento”, e determinou “a perda de seu vale-alimentação do corrente mês”.
Na nota, a prefeitura diz repudiar com veemência a invasão dos palácios. “Os ataques a instituições democráticas são inaceitáveis e a depredação de patrimônio público é intolerável. A democracia brasileira requer respeito às instituições e deve ser defendida por todos os cidadãos e cidadãs.”
O prefeito Dinoel tem relação política distante com Bolsonaro e os familiares dele que vivem em Eldorado, mas apoiou o ex-presidente no segundo turno contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Procurado por telefone, Trindade disse à reportagem que só falaria sobre o assunto na companhia de um advogado e não respondeu a perguntas enviadas por escrito.
O motorista replicou no grupo de WhatsApp com moradores de Eldorado a versão de que os atos de depredação foram cometidos por infiltrados, o que não é comprovado. “Eu estive lá!!! E posso garantir que as imagens que a imprensa insiste em mostrar não foram causadas por patriotas!!!”, escreveu.
Em um áudio, ele afirmou: “Uma coisa assim muito terrível que aconteceu: eu fui detido no Quartel-General do Exército, mas teve gente nossa que estava no hotel e, de repente a polícia chegou, e os que estavam com a gente e outros que participaram da manifestação eles [policiais] tinham como evidência, o que associava eles à manifestação, era a bandeira ou a camiseta do Brasil”.
Trindade disse que “todos foram obrigados a dar fim” aos objetos de alguma forma e alguns optaram por “esconder debaixo do colchão”. “Nunca imaginei que no país onde eu estou a nossa bandeira, a bandeira nacional, fosse uma evidência de crime. Talvez eu esteja errado, mas eu acho isso o cúmulo.”
O clima da eleição presidencial na cidade foi acompanhado em 2022 pela série de reportagens da Folha “Raízes presidenciais”, que também mostrou eleitores de ambos os candidatos na terra natal de Lula, Garanhuns (PE).