Nos últimos tempos, uma palavra tem estado presente na minha vida: calor. Não o calor do sol brasileiro, que já está insuportável, mas aquele que vem de dentro, trazido por mudanças hormonais que nos fazem sentir como se estivéssemos em uma montanha-russa. É irônico e angustiante pensar que, enquanto nós, mulheres, lutamos contra os calores internos da pré-menopausa, o Brasil arde em chamas devido a queimadas criminosas que aumentam a temperatura do nosso país de forma brutal e desumana.
Essas queimadas não são apenas um problema ambiental; elas simbolizam a irresponsabilidade e a falta de empatia da nossa sociedade. Enquanto o fogo consome florestas e habitats, aumentando o calor ao nosso redor, nós, que habitamos este país, precisamos lidar com um calor interior igualmente sufocante, fruto das transformações hormonais que muitas vezes não são discutidas abertamente. Queimar o que é nosso, queimar a natureza, é um reflexo da forma como nos tratamos: estamos nos colocando em risco, assim como a biodiversidade que depende desses ecossistemas.
Desde que comecei a sentir os primeiros calores, no ano passado, minha vida se transformou. A cada dia, a sensação de que estou em um corpo que não reconheço mais aumenta. Uma amiga, que já passou por isso, me alertou: “É pré-menopausa.” E assim, me vi lidando não apenas com calores repentinos, mas também com uma série de sintomas que incluíam irritabilidade, falta de memória e mudanças de peso. O que deveria ser uma fase de redescoberta se torna um verdadeiro campo de batalha, enquanto a natureza ao nosso redor é destruída em um ritmo alarmante.
Manter a rotina, o trabalho e ainda ser vista como a mulher equilibrada que todos esperam é um verdadeiro desafio. A pressão interna de não surtar é avassaladora. A cobrança que fazemos a nós mesmas é muito maior do que a que recebemos dos outros. Precisamos ser gentis conosco, nos permitir dias ruins sem culpa.
Tem dias em que o estresse parece incontrolável, e é preciso lembrar que tudo bem não estar bem. Se a energia para malhar não vem, não tem problema; podemos simplesmente nos permitir descansar. E se, por acaso, decidimos nos deixar levar por uma comida menos saudável, que isso não se transforme em um peso na consciência. Afinal, já estamos enfrentando tantos desafios!
A ironia dessa situação se torna ainda mais evidente quando vemos que, após o fogo consumir o que temos de mais precioso, a responsabilidade de apagar as chamas recai sobre o Estado. Criticamos a falta de ação governamental, mas, ao mesmo tempo, somos cúmplices da devastação que causamos. É um ciclo vicioso que se reflete em nossos corpos, onde a falta de cuidado com o meio ambiente se traduz em doenças, estresse e ansiedade. O que estamos fazendo com o nosso planeta, muitas vezes, ecoa em nossas vidas, gerando uma pressão insustentável que não deveria existir.
Outro ponto crucial é sobre a solidão desse processo. Embora tenha percebido que preciso de acompanhamento médico, a busca por apoio emocional e um grupo de mulheres para compartilhar experiências é fundamental. A troca de vivências, dicas e até mesmo receitas de chás pode nos ajudar a enfrentar essas mudanças com mais leveza. Por que não nos unir e segurar a mão uma da outra em meio a essa montanha-russa?
Os calores, com seu sopro intenso e frio subsequente, são uma metáfora perfeita para a montanha-russa emocional que vivemos. Às vezes, parece que a energia sobe do nosso peito e se espalha pelo corpo, e precisamos correr para nos cobrir ou nos despir, dependendo do que o nosso corpo decide naquele momento. É um processo esquisito e desafiador, que não afeta apenas nosso corpo, mas também nossas relações e nossa vida profissional.
Respirar é essencial. E enquanto enfrentamos essa fase, é preciso lembrar que, mesmo nas dificuldades, podemos encontrar caminhos para lidar com as mudanças. Conversar sobre isso, expor nossas experiências e buscar ajuda profissional são passos importantes. Muitas mulheres, especialmente aquelas em situações mais vulneráveis, não têm essa oportunidade, e é nosso papel dar voz a elas. Todas nós merecemos ser ouvidas e compreendidas.
A pré-menopausa pode ser uma montanha-russa cheia de altos e baixos, mas juntas, podemos transformar esse passeio em uma jornada de autoconhecimento e solidariedade. Precisamos lembrar que a luta contra as queimadas, assim como a luta por uma saúde melhor, é uma batalha coletiva. E, acima de tudo, temos que nos lembrar: estamos todas nessa, e isso é completamente normal.