Ao ser convidada para falar sobre os trinta, logo me veio à mente o filme De Repente 30. Nele, uma adolescente, enfrentando todas as dificuldades da convivência, as mudanças hormonais e os desafios com os amigos e pais, desejava saltar diretamente para os trinta anos. Queria pular essa fase difícil e encontrar uma versão adulta de si mesma. Curiosamente, eu não tinha essa ansiedade. Meu desejo era outro: eu queria alcançar os dezoito. Na minha cabeça, os dezoito trariam a liberdade de decidir o que fazer, ser dona da minha vida, dona do meu querer.
Os quinze anos demoraram a chegar, mas quando chegaram, dos quinze aos dezoito foi um pulo. E, dos dezoito aos vinte e sete, a sensação de que o tempo voava só aumentou. A gente sempre tem muita coisa para fazer, não é? E quando temos muito para fazer, o tempo parece acelerar ainda mais. Mas aos trinta… eu era outra pessoa. A verdade é que eu não tinha a maturidade que tenho hoje, quase aos cinquenta e um. Mais que isso, minha autoestima era baixíssima.
Sempre fui uma adolescente e depois uma mulher obesa, e isso me afetava profundamente. Não me sentia confortável, não me sentia bonita. Eu sempre tentava driblar essa sensação com minha personalidade: comunicativa, cercada de amigos, generosa. Essas qualidades me ajudavam, mas, no fundo, a autoestima em si permanecia baixa. Carreguei esse sentimento até os trinta e nove anos, quando decidi fazer a cirurgia bariátrica.
A cirurgia veio tanto por questões de saúde – minhas taxas estavam todas alteradas – quanto pela necessidade de me sentir melhor comigo mesma. Passei a vida toda entre dietas e remédios, até o momento em que me recusei a continuar. Eles me faziam mais mal do que bem. Quando eliminei cerca de quarenta a cinquenta quilos, precisei reaprender a viver. Reaprender a me vestir, a me ver e, principalmente, a me gostar. E assim fui caminhando até os cinquenta.
Hoje, estou com alguns quilos a mais do que logo após a cirurgia, mas, ainda assim, me sinto mais completa, mais bonita. Hoje, consigo me enxergar como uma mulher linda, cheia de vida e inteligência. E essa visão não depende mais do número na balança, continuo me vendo como uma mulher maravilhosa, mesmo enfrentando um período complicado no trabalho, que mexe com a cabeça e com tudo ao redor.
Fazer atividade física agora é uma necessidade, porque, quando chegamos nessa idade, tudo dói! E, claro, se a gente conseguir equilibrar a alimentação, vem a perda de peso. Mas, diferente de antes, o peso extra não me faz sentir como eu me sentia anos atrás. Eu continuo linda, confiante, encantando onde quer que eu vá, sem falsa modéstia.
Então, se o meu “De repente, 30” foi igual ao de outras mulheres? Talvez não. Mas ele é meu, único e cheio de desafios e superações. E, aos cinquenta, sigo aprendendo e me redescobrindo, com muito mais amor próprio do que naquela época.