Mais um ano se inicia e como sempre acontece, esperamos que o novo ciclo traga novos rumos e mudanças para nossas vidas e para a nossa realidade. Damos adeus ao ano velho e saudamos o novo ano que se inicia e encaramos o primeiro dia dessa nova etapa sedentos de novidades.
Entretanto, quando o assunto é música, a sede pelo novo raramente é cogitada. De geração em geração, a frase mais ouvida é sempre “não se faz mais música como as de antigamente”, “no meu tempo é que se fazia música de verdade”. Já cheguei a ouvir de pessoas com 20 anos que “as músicas de antigamente realmente eram muito melhores”.
Após ouvir as mesmas frases repetidas por representantes de algumas gerações comecei a me perguntar: “será que isso é verdade?”. Vamos começar pela comparação entre duas músicas escritas em épocas muito diferentes. Trata-se de Memories de Maroon 5 e o Cânone em Ré de Johann Pachelbel.
Apesar dos mais de duzentos anos que separam as duas músicas, elas compartilham a mesma estrutura musical. A melodia de Memories chega a compartilhar muitas notas em comum.
Memories X Pachelbel’s Canon (Maroon 5)
Esse, no entanto, não é o único exemplo. Há outras obras clássicas usadas como inspiração ou ponto de partida para sucessos de bandas de rock como The Beatles, Led Zeppelin e Genesis. Dentre os autores mais usados estão Johann Sebastian Bach e Ludwig van Beethoven.
13 Hinos do Rock que vieram de Músicas Clássicas!
No Brasil, o compositor Flávio Venturini se utilizou do Arioso da Cantata BWV 156 de Bach para compor a canção Céu de Santo Amaro.
Flávio Venturini, Orquestra DoContra e Musicoop – Céu de Santo Amaro
Além dessas inspirações, que para muitos podem soar como um plágio, há o recorrente uso de estruturas harmônicas antigas em músicas de sucesso de artistas como Vangelis e Britney Spears. A estrutura usada para essas obras mais recentes é a Folia que foi amplamente usada no século XVII.
Classical music’s favourite chord progression
Muitos poderiam afirmar que esses artistas “estragaram” as obras dos grandes mestres da música universal. Outros poderiam afirmar que o uso das estruturas musicais dessa época foi empregado para criar obras menores, mas o que aconteceria se fizéssemos o contrário? Como ficariam as canções em versões antigas?
Vamos começar com Enjoy the silence do Depeche Mode. Como ela ficaria em uma versão jazz da década de 1920?
“Enjoy the Silence” by Depeche Mode (1920’s Jazz Age Cover) ft. Chloe Feoranzo
Que tal comparar com a versão original?
Depeche Mode – Enjoy The Silence (Official Video)
Será que uma versão é melhor do que a outra? Será que a mudança na instrumentação e nos arranjos influenciou na qualidade da canção do grupo inglês de música eletrônica. Talvez a resposta não esteja nas músicas em si, mas como as escutamos.
Como foi demonstrado, muitos dos recursos composicionais do passado são empregados até hoje, principalmente quando o assunto é a música ocidental. A mudança mais significativa que ocorreu ao longo dos séculos está, como foi dito, na instrumentação e nos arranjos. Para quem se acostumou a ouvir instrumentos acústicos, uma guitarra distorcida ou mesmo apenas com um efeito simples como o chorus pode soar agressiva ou mesmo feia. O que dizer então das músicas recheadas com sintetizadores ou outra parafernália eletrônica?
Talvez o motivo que nos faz gostar mais da música do “nosso tempo” seja muito mais afetivo do que objetivo. Afinal, todos nós associamos uma melodia a algum momento especial de nossas vidas. Esse fenômeno é tão forte que mesmo pessoas com Alzheimer conseguem se lembrar de músicas que marcaram sua infância ou outro momento especial de suas vidas.
Gostaria de encerrar esse texto com uma proposta. Que neste novo ano possamos escutar artistas ou gêneros musicais que não ouvimos até hoje? Seria uma forma de quebrar nossa rotina e brindar nosso cérebro e nossa vida com algo realmente novo, não acha?
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