Atualmente os padrões de beleza são excludentes, moldados por normas eurocêntricas e heteronormativas que não refletem a diversidade de corpos, traços e identidades. A busca por esse “padrão ideal” para se sentir aceito (a) ou para criar uma autoestima pode chegar a níveis preocupantes, como diversas intervenções cirúrgicas, transtornos alimentares e outros. Por outro lado, autoestima é algo que nós criamos como indivíduos, mas isso não isenta a influência externa histórico cultural. É sobre isso que vamos falar hoje: autoestima e recorte racial.
O que é autoestima? “A autoestima é a qualidade de quem se valoriza e está contente com o seu modo de ser, se expressar e viver. Consequentemente, transmite confiança em suas ações, decisões e julgamentos. Cada pessoa faz uma avaliação subjetiva de si mesma, enumerando as suas qualidades e defeitos”. Mas onde entra o recorte racial?
No Brasil temos uma história diferente do resto do mundo, “o Brasil foi o maior território escravista do hemisfério ocidental”. Não suficiente, tivemos um imenso movimento eugenista para justificar a segregação racial no país. Vale a pena ler o artigo da Geledés “O que foi o movimento de eugenia no Brasil: tão absurdo que é difícil acreditar” para entender como surgiu o movimento aqui no Brasil e como ainda é presente nos dias atuais.
Voltando para a autoestima, como falar dela sem considerar as experiências pessoais? E como não reconhecer que as vivências de pessoas negras e de pessoas brancas são completamente distintas? No universo feminino, para mulheres brancas, a autoestima frequentemente se depara com desafios relacionados à imagem corporal, mas para mulheres negras, essa questão é entrelaçada com um significado racial, pois o padrão de beleza é branco.
Você já se deparou nas redes sociais com um vídeo chamado “Teste da boneca”? No vídeo, acompanhamos um experimento psicológico para testar o grau de marginalização sentido por crianças afro-americanas, decorrente de preconceito, discriminação e segregação racial. Resumindo o vídeo, as crianças, tanto brancas como negras, falam que a boneca bonita é a boneca branca e que a boneca feia é a boneca negra. Essas escolhas não são chocantes quando entendemos que as crianças são ensinadas a pensar assim.
A estrutura capitalista é racista. Moldada para funcionar contra os negros e isso não é “natural”, é uma criação artificial de anos de exploração. Assim como tentavam justificar a escravidão, dizendo que o negro não tinha alma, hoje dizem que se a pessoa negra mora na favela e não tem condições dignas para viver é porque ela não se esforçou o suficiente.
Então se falamos de autoestima, de beleza, de autoimagem ou até de padrões, consequentemente vamos falar de racismo, o recorte racial não pode ser ignorado, assim como a estrutura que nos oprime e dita o que é bom e belo.
Como mulher branca não posso dizer para uma mulher negra o que fazer para ter uma autoestima boa. As vivências são diferentes e lembrando que os padrões hegemônicos a negação à beleza negra é histórica. Porém, é na coletividade que nós, mulheres, nos organizamos e nos apoiamos, ouvindo uma à outra, acolhendo as dores uma da outra, para juntas caminharmos e lutarmos pelos direitos de todas. Todavia, se uma mulher não for livre do jugo capitalista, colonialista, racista e misógino, então nenhuma de nós está livre.
No fim, a jornada para uma autoestima verdadeira, para a aceitação e celebração da diversidades de belezas é mais uma luta feminista, antirracista e anticapitalista, pela total emancipação das mulheres.