Esta semana, fui surpreendida com uma notícia que me trouxe não apenas um alívio, mas também uma chama de esperança: a vitória de Erica Neves na eleição para a presidência da OAB do Espírito Santo. A sensação que tive foi, sem dúvida, de choque. Em uma área predominantemente machista como a advocacia, onde as mulheres muitas vezes são vistas como “sub-advogadas” ou, em alguns casos, tratadas como objetos de desejo, a vitória de uma mulher nesse contexto é um marco significativo. Erica enfrentou uma disputa acirrada com nomes como Rizk e Ben-Hur, que já dominavam a cena há anos, e sua vitória representou um grande avanço.
A advocacia, como muitas outras áreas, ainda carrega um peso de discriminação e desigualdade de gênero. Infelizmente, o cenário é muitas vezes marcado por práticas que, em vez de promover a meritocracia, favorecem a aparência e a subordinação feminina, com as mulheres sendo frequentemente encaminhadas aos gabinetes de juízes e outros espaços como uma forma de agradar ou “facilitar” negociações. Portanto, quando a notícia de que uma mulher conquistou a presidência da OAB se espalhou, foi como um sopro de esperança, uma demonstração de que as coisas podem, sim, mudar.
Além disso, o apoio do NEFA (Núcleo de Estudos de Formação Acadêmica) à candidatura de Erica ajudou a potencializar sua campanha, ampliando suas chances de vitória. Esse tipo de aliança mostra como a união de forças pode alterar o rumo das eleições, especialmente quando se trata de lutar contra sistemas que historicamente desfavorecem as mulheres. Contudo, é impossível ignorar as sombras que ainda rondam o cenário político e eleitoral, como a circulação de fake news e tentativas de manipulação que tentam deslegitimar a vitória de candidatos que fogem do script tradicional.
Essa realidade, no entanto, não diminui o valor da conquista de Erica, mas reforça a necessidade de se resgatar o papel institucional da OAB, que em outras épocas era um símbolo de luta pela justiça e pela equidade. Hoje, infelizmente, observamos campanhas eleitorais que mais se assemelham a práticas políticas tradicionais, onde a disputa pelo poder muitas vezes obscurece o compromisso com as necessidades reais da sociedade.
Na terça-feira, participei de uma atividade com mulheres recém-eleitas para cargos públicos em diversos municípios, um evento que me deixou ainda mais inspirada. Durante as discussões, ouvi relatos de mulheres que se tornaram vereadoras, vice-prefeitas ou foram reeleitas, e percebi o quanto o caminho ainda é árduo para as mulheres na política. A luta por mais espaço nas câmaras municipais e nos cargos executivos segue, mas, ao mesmo tempo, essas histórias de superação mostram que a mudança é possível.
Embora muitas dessas mulheres ainda ocupem cargos menores ou estejam em posições de vice, que ainda refletem um sistema onde o poder principal é historicamente masculino, cada conquista é um passo em direção à equidade. Elas não são apenas exemplos para as próximas gerações, mas também símbolos de resistência e da luta por um espaço de direito. A presença feminina nas esferas de poder vai além de números e estatísticas; é uma questão de representatividade verdadeira, aquela que reflete a realidade da maioria da população.
É importante destacar também a luta contra os chamados “laranjas”, mulheres que se veem colocadas em candidaturas apenas para validar chapas ou desviar recursos. Embora essas práticas ainda existam, é encorajador ver que, ao lado delas, estão mulheres genuinamente comprometidas com a transformação e com o progresso social.
No final das contas, a luta pela igualdade de gênero é uma jornada longa e difícil. Mas, como vimos na eleição da OAB e nos relatos de mulheres eleitas para cargos públicos, a mudança está acontecendo. Embora as conquistas ainda sejam poucas e os obstáculos grandes, há um movimento crescente que não pode ser ignorado. Para que a verdadeira representatividade feminina se faça presente, é necessário seguir em frente, resistir e construir espaços de poder que, de fato, defendam os direitos das mulheres, sem reproduzir as velhas práticas de exclusão e machismo.
Com o coração aquecido pela esperança, seguimos em frente, cientes de que o caminho é longo, mas de que a mudança está ao nosso alcance. É necessário continuar lutando para que a voz das mulheres não só seja ouvida, mas que ela seja respeitada e, principalmente, que ela promova uma verdadeira transformação na sociedade.