sábado, 21 de dezembro de 2024

Sereia não existe, e mesmo assim sua cor é questão para ataque

O universo de filmes da Disney, marcou e ainda marca a vida de muitas pessoas ao redor do mundo. Nos últimos anos, a multinacional estadunidense tem investido em uma maior diversidade dos personagens, como o recém lançado A Pequena Sereia, estrelado por Halle Bailey, uma atriz negra. 

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O longa estreou na última quinta-feira, 25, e mesmo antes de sua estreia, sofreu com ataques racistas camuflados de “infidelidade com a versão original”.

Ariel, a sereia ruiva que está no coração de muitos adultos, que cresceram nos anos 2000, foi alvo de ataques racistas por parte do público, quando a atriz e cantora, Halle Bailey foi escolhida para interpretar a personagem principal. 

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Assim como a personagem, Halle tem uma voz linda, e foi por esse motivo que conquistou o papel principal. Só que neste caso, quem tenta roubar a voz da sereia não é uma bruxa…

Quando a Disney anunciou que Ariel seria interpretada por uma atriz preta, ainda em 2019, Halle sofreu ataques racistas nas redes sociais. As hashtags  #NotMyAriel que traduzida significa, não é minha Ariel, e #ArielsWhite, Ariel é branca, viralizaram no Twitter. 

Tradução: Eu já vi acidentes de carro mais bonitos que Halle Bailey. Ela não é a pequena sereia e nunca será. E em alguns anos o enegrecimento do conto de Hans Christian Anderson e o clássico da Disney serão esquecidos

A professora do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Fernanda Maurício, aponta que a diversidade é importante para desnaturalizar a presença de apenas um só tipo de corpo. Mas deve vir acompanhada de mudanças estruturais, dentro da empresa, em cargos de decisão e no caso dos filmes, como os protagonistas.

O aumento da representatividade se dá pelas telas, como no filme, a protagonista é uma jovem negra e com dreads. E a representação é pensar nas pessoas negras também nos cargos de direção do cinema e não só nas telas.

O poder da caneta e o espaço de decisão precisam, também, ser negros. É necessário ir além da representatividade negra nas telas, nos filmes e nas séries. É preciso ter pessoas negras também nas produções e ocupando lugares importantes na indústria do entretenimento. 

As críticas que a atriz recebeu são o “puro suco” do racismo. Ao pensar em uma sereia, você imagina um ser mitológico, fruto da imaginação, porque ele não existe, é uma invenção.

Criticar a cor da pele e sua aparência se baseia apenas no racismo, e dessa vez nem dá para jogar a culpa no racismo estrutural. Ele está escancarado mesmo. E ele se dá, porque as pessoas não conseguem imaginar ou mesmo, aceitar negros ocupando lugares de destaque. 

Assim que o trailler foi lançado, viralizaram vídeos de crianças pretas assistindo admiradas pela sua semelhança com a princesa dos mares. Produções como esta alimentam o imaginário das crianças negras e também são importantes para a construção de sua autoestima e identidade. 

Ao mesmo tempo em que o filme gira em torno de Ariel, no decorrer das cenas, outros personagens negros aparecem, em profissões e posições diferentes. A rainha, mãe adotiva do príncipe Eric e algumas irmãs da sereia principal também são negras.

Crianças negras crescem com poucos referenciais positivos na televisão e no cinema. No mundo Disney, tem 12 princesas, e apenas uma delas é negra, a querida Tiana do filme A Princesa e o Sapo. E por sinal, ela tem o menor tempo de tela na forma humana, já que na maior parte do filme está na forma de sapo. 

Além da baixa representação, o cinema tem um histórico extenso de “blackface”, que consiste na caracterização estereotipada de pessoas brancas se passando por pessoas pretas.

Com o passar dos anos, por ser definida como uma prática extremamente racista, foi substituída pelo “whitewashing”, que significa nada mais nada menos que branqueamento ou embranquecimento.

Com o whitewashing, a indústria coloca pessoas brancas como pessoas de outras etnias ou como heróis de outras etnias. E assim, anula ou apaga a identidade, cultura e autenticidade de outros povos. 

A questão é que atores brancos “podem” ser samurai, faraó, nativo-americano, indígena, sem questionamentos, mas uma atriz negra não pode ser uma sereia, um ser mitológico inexistente. 

Apesar dos ataques e das reclamações de pessoas brancas, as reações de meninas e meninos emocionados por se identificarem com os personagens que tanto amam, mostram e comprovam a necessidade da representação nos cinemas.

“Uma sereia não tem lágrimas e, portanto, ela sofre muito mais” –  Hans Christian Andersen

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Maria Luísa Berto
Maria Luísa Berto
Maria Luísa é estudante de jornalismo, apaixonada por música, idiomas e cultura pop.

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