16 de maio de 2025
sexta-feira, 16 de maio de 2025

Do choro ao jazz

Em menos de 10 dias o mundo da música teve pelo menos duas datas comemorativas.

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A primeira foi o Dia Nacional do Choro, celebrado no último dia 23, e a segunda, comemorada hoje, é o Dia Internacional do Jazz.

São dois estilos musicais reconhecidos em todo mundo e berço de gênios como Jacó do Bandolin e Joe Coltrane. Além disso, o que uniria os dois estilos?

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De acordo com o bandolinista Hamilton de Holanda, a relação entre choro e jazz é muito mais próxima do que podemos imaginar.

Em uma entrevista ao site Topview, Hamilton afirma: “Eu sempre digo: o choro e o jazz são aqueles primos que a gente tem na família e considera irmão, é a mesma coisa”.

Essa identidade comum fica bem evidente na música “Flying chicken”. De acordo com o próprio autor, é uma mistura de “jazz, choro, groove e mais algumas coisas que não sabemos o nome.”

Confira a música no abaixo e tire suas próprias conclusões.

FLYING CHICKEN | HAMILTON DE HOLANDA TRIO (Videoclipe oficial)

De forma mais técnica podemos dizer que esses dois irmãos, o chorinho e o jazz, têm várias semelhanças.

Ambos enfatizam a improvisação, o virtuosismo e a capacidade de comunicação emocional com o público. Quem já participou ou assistiu uma roda de choro e uma jam session sabe da veracidade dessa afirmação. Além da improvisação, outra característica importante é o swing.

Normalmente esse aspecto não é associado ao nosso chorinho, creio que o swing está no DNA africano de nossa música e é o elemento musical que dá uma tremenda dor de cabeça a quem tenta transcrever qualquer música desses gêneros para uma partitura.

É por isso que em muitas publicações a saída foi colocar a palavra “swing” logo abaixo do título da música. Assim o músico sabe que as notas não têm o valor exato que costumamos atribuir a elas.

Porque a PARTITURA DE JAZZ é escrita DESSA FORMA? | ALEX FREITAS

Outro ponto em comum é o período em que surgem. Tanto o chorinho quanto o jazz dão os seus primeiros passos aproximadamente na mesma época, ou seja, no final do século XIX e início do século XX. Ambos se desenvolveram a partir de uma mistura de influências culturais, como a música africana e europeia e aos poucos ganharam espaço social e o prestígio que os tornaram gêneros musicais de grande importância reconhecidos como patrimônio cultural e artístico de seus respectivos países. São, portanto, símbolos de identidade cultural e musical.

O jazz, entretanto, possui uma característica única que foi a justificativa para a Conferência Geral da Unesco proclamar o dia 30 de abril como o Dia Internacional do Jazz. Trata-se da história do estilo e de sua capacidade de abrigar outras formas de expressão musical. De acordo com Nina Simone, “Jazz não é só música, é um estilo de vida, é uma forma de ser, uma forma de pensar”. Deve ser por isso que muitos músicos de várias partes do mundo se identificam com esse estilo musical.

Uma demonstração disso é o grupo de jazz Frode Fjellheim Jazz Joik Ensemble, formado por indígenas do norte da Noruega (sim, há indígenas na Europa) cujo trabalho pode ser conferido na playlist abaixo.

Ao ser questionado sobre a existência de uma cena de jazz expressiva no Brasil, Hamilton de Holanda responde:

“A cena de jazz se mistura um pouco, porque o Brasil é um continente, artisticamente falando. O Brasil tem muitos gêneros musicais e manifestações culturais. O jazz ao mesmo tempo se tornou uma manifestação mundial, ele não é mais só norte-americano. Então, o jazz no Brasil aparece na bossa nova, como um primo legítimo do choro. O Brasil entende o jazz junto com a própria música brasileira, a bossa nova e a MPB. Em especial com essa capacidade que o brasileiro tem na improvisação. A gente tem essa união e essa relação muito saudável com o jazz.”

Para a Unesco, o dia Internacional do Jazz por considerar que este estilo musical deu força na luta contra a discriminação e o racismo e por acreditar em seu poder como força para a paz, o diálogo e o entendimento mútuo. Podem discordar o quanto quiserem, mas a irmandade do Jazz com o nosso chorinho, testemunhada por Hamilton de Holanda, é uma prova dessa força. É o que eu penso.

PS: Este artigo foi escrito ao som dos Álbuns Flying Chicken e Canto da Praya, de Hamilton de Holanda.

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Ulisses Mantovani
Ulisses Mantovani
Bacharel em Música da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e Servidor Público Estadual

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