Se o pedido de recuperação judicial da Americanas, com dívidas de R$ 48 bilhões, já tinha elevado a cautela dos bancos em relação à oferta de crédito para empresas no país, a proteção contra os credores pedida pela Oi à Justiça anteontem, com débitos totais de R$ 29 bilhões deve potencializar esse cenário.
Para especialistas no setor financeiro consultados pelo Globo, os efeitos colaterais dessa sobreposição de crises podem ser o aumento nas taxas e juros cobrados de companhias e maior exigência de garantias, dificultando o acesso ao crédito para todas as empresas.
Em pouco menos de um mês, duas grandes companhias foram à Justiça pedir a suspensão da execução de dívidas antes mesmo de requerer a recuperação judicial.
Na quinta-feira, o Santander foi o primeiro banco entre os credores da Americanas a anunciar aumento na provisão de recursos por causa do maior risco de calote no país.
— A cautela aumenta no mercado de crédito corporativo. O Santander deu o tom do que vai acontecer com os demais bancos credores ao tomar um baque deste tamanho — analisa Bruno Diniz, da consultoria de inovação Spiralem, especializado no setor financeiro.
O caso da Oi tem sido descrito no setor financeiro como uma empresa “repedalando” uma recuperação judicial que já havia sido encerrada no fim do ano passado, o que traz mais prejuízo a este cenário e faz os bancos elevarem a régua na hora de emprestar, diz Diniz.
Num contexto em que a taxa básica de juros do país já está muito alta (ontem o Banco Central manteve a Selic em 13,75% ao ano), aumenta a seletividade das instituições financeiras em relação aos clientes, porque cresce a aversão ao risco.
Assim, os bancos preferem linhas de crédito que tenham garantias reais, prazos mais curtos de financiamento e, claro, taxas de juros efetivos mais elevados para compensar o cenário de maior risco, especialmente os que tinham grande exposição a Americanas, como Santander, Bradesco e BTG.
No ano passado, o volume total do crédito bancário, segundo o BC, avançou 14% para R$ 5,32 trilhões frente a 16,3% de 2021. O crédito a empresas cresceu menos que a média e que no ano anterior: 9,3% frente aos 10,5% de 2021.
A taxa média de juros cobrada pelos bancos registrou alta de 8,2 pontos percentuais em 2022 e chegou a 42% ao ano em dezembro, excluindo os setores habitacional, rural e o BNDES. A média só das operações com empresas subiu de 19,7% ao ano, em dezembro de 2021, para 23,1% no fim do ano passado.
Isso significa que os juros bancários médios subiram mais do que a Selic, que avançou 4,5 pontos percentuais no mesmo período.
A dívida total da Oi é de R$ 29 bilhões. Segundo fontes que acompanham o setor bancário, a tele tentava renegociar dívidas de R$ 10 bilhões, incluindo papéis emitidos no exterior, por dificuldades de caixa.
Os principais bancos credores tentaram prorrogar a recuperação judicial da empresa, encerrada em 15 de dezembro, para garantir o bloqueio de recursos provenientes da sua venda de negócios, como a operação de telefonia móvel para três operadoras rivais.
De acordo com o plano de recuperação judicial, se o dinheiro em caixa após as vendas superasse R$ 6,5 bilhões, haveria pagamento antecipado das dívidas. Mas isso não aconteceu.
— É uma empresa-zumbi, fadada a ter novos problemas porque a dívida reestruturada na primeira recuperação judicial ainda ficou enorme. Tem dívida em dólar e captou recursos no mercado com uma taxa de juros alta, não tem caixa para pagar isso — analisa Salvatore Milanese, sócio da consultoria Pantalica Partners. — O plano de recuperação incluiu a venda de ativos e o foco da operação fundamentalmente em banda larga, mas a venda dos ativos não reduziu drasticamente o endividamento, mas sim a receita.
Em nota divulgada ontem, a Oi afirmou que a solicitação da tutela de urgência cautelar à Justiça teve como objetivo de proteger a companhia da execução de dívidas e “permitir o avanço das discussões e tratativas com os credores, em curso desde o ano passado, visando uma potencial renegociação das dívidas”.
A empresa diz que busca “resguardar as possibilidades de recursos processuais formais de recuperação” e diz que iniciou a renegociação de sua dívida financeira com a contratação da consultoria Moelis & Company, em outubro de 2022. “A companhia ainda precisa encontrar soluções para questões essenciais para a sua sustentabilidade futura”, diz o comunicado.