O Brasil é um dos países que apresentam os piores indicadores relacionados com a liberdade de imprensa. E um dos motivos passa pela violência praticada contra jornalistas.
Pensando em contribuir para melhorar essa situação, um projeto mapeia os casos de agressão contra os profissionais da área.
O Obcom (Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura) tornou público neste ano o acesso e a visualização dos dados. Fruto de parceria entre a Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) e a USP, o site automatizou a consulta à série histórica de agressões à imprensa e aos profissionais do setor.
Até o momento estão disponibilizados 926 casos nos quais são identificados o local da agressão, o veículo no qual o profissional trabalhava e, quando disponível, o nome do agressor. São registros feitos desde 2016.
“Essa ferramenta é importante porque reúne uma série histórica de relatórios da Fenaj sobre violência contra a categoria e liberdade de imprensa no Brasil”, afirma Samira de Castro, presidente da federação.
Segundo ela, a ferramenta pode ser utilizada tanto por quem estuda a violência contra jornalistas como por autoridades que queiram acompanhar de uma forma centralizada essas ocorrências.
“Além disso, a gente espera que, como a ferramenta também está disponível em inglês, que ela possa ser utilizada para internacionalizar a questão, dando um diagnóstico sobre a situação da violência contra jornalistas que atuam no Brasil”, diz.
De acordo com os organizadores do projeto, o Obcom é resultado de uma longa trajetória de pesquisas sobre censura e liberdade de expressão cujo início remete ao ano 2001.
Desde 2021, o Obcom também participa de projeto internacional sobre segurança de jornalistas, financiada pelo Conselho de Pesquisa da Noruega e que envolve também África do Sul e Estados Unidos.
“São bem-vindas e necessárias todas as iniciativas capazes de dimensionar o problema no Brasil. Vivemos uma situação em escalada, com mais violência a cada dia, a cada mês, até chegarmos ao momento atual, num cenário sem paralelo na história democrática brasileira”, diz Katia Brembatti, presidente da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo).
Ela afirma que no final de 2022, depois do segundo turno das eleições, foram registrados mais de 70 casos de agressões, média de mais de uma por dia. A partir de 8 de janeiro, quando ocorreram os ataques golpistas em Brasília, foram mais de 40.
“Essa situação precisa mudar. E um passo importante é o diagnóstico. No ano passado, 11 organizações voltadas à liberdade de imprensa e à proteção a jornalistas se uniram e realizaram ações conjuntas. A violência contra jornalistas não é um problema apenas para profissionais de imprensa. A população fica menos informada. O estado de polarização que vivemos é fruto dessa lógica de ter acesso a apenas uma parte enviesada da história.”
O Brasil ocupa a 110ª posição entre 180 nações no ranking da ONG Repórteres Sem Fronteiras divulgado em 2022.
Um relatório da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) sobre violações à liberdade da expressão mostrou um aumento de profissionais de imprensa vítimas de atentados, agressões, ameaças, ofensas e intimidações em 2021, na comparação com o ano anterior. Pelo menos 230 profissionais e veículos de comunicação sofreram algum tipo de ataque, 22% a mais do que em 2020.