Localizada entre as montanhas do Parque da Serra do Mendanha, uma casa simples em Vila Aliança, zona oeste do Rio de Janeiro, está sempre de portas abertas. Este é o lar de Anazir Maria de Oliveira, mais conhecida como Dona Zica, de 92 anos. Ela se tornou uma figura emblemática pela sua atuação como liderança comunitária, ajudando a urbanizar o bairro e coordenando a Pastoral Afro-Brasileira da Arquidiocese do Rio de Janeiro.

“O papel das igrejas, hoje, é incentivar a luta coletiva, principalmente, a juventude”, enfatiza Dona Zica, destacando a importância do engajamento social e político para o futuro dos jovens.
Início de uma Trajetória de Luta
Dona Zica nasceu em Manhumirim, Minas Gerais, e mudou-se cedo para o Rio de Janeiro, onde participou de importantes movimentos sociais. Nos anos 1980, foi uma das fundadoras do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos do Município do Rio de Janeiro, da CUT e do PT.
Seu maior empenho sempre foi na luta pelos direitos das trabalhadoras domésticas, profissão que exerceu desde os 9 anos de idade. Naquela época, ainda não havia leis que regulassem esta atividade, e ela chegou a trabalhar por meses sem remuneração alguma.
Em novembro de 2025, Zica celebrou 92 anos junto a uma importante conquista: a Lei Complementar 150, que reafirma os direitos estabelecidos pela PEC das Domésticas, como FGTS, seguro-desemprego e o pagamento de horas extras.
Conquistas na Constituinte
Nos anos 1980, durante a Constituinte, Zica defendeu o reconhecimento das domésticas como categoria profissional. Liderando a Associação de Trabalhadoras Domésticas, ela lutou por direitos como férias remuneradas, 13º salário e aviso prévio, conseguindo importantes avanços sociais para a categoria.
Maria Izabel Monteiro, atual presidenta do sindicato, destaca: “Zica foi uma figura fundamental, sempre buscando o avanço dos direitos sociais e humanos.”
Formação de Alianças
Em conversa com a Agência Brasil, Dona Zica destacou a relevância da Igreja Católica na resistência e na formação de alianças com o movimento feminista, que ofereceu apoio crucial para a causa das trabalhadoras domésticas.

“Nós trocamos forças e aprendemos muito; é um processo contínuo de troca de experiências”, disse Anazir, que trabalhou como lavadeira e passadeira por mais de quatro décadas.
Desafios e Perspectivas Futuras
Aos 83 anos, Dona Zica formou-se assistente social, após cursar duas universidades. Ela espera que os direitos dos trabalhadores sejam cada vez mais ampliados, especialmente para as diaristas, cujo cenário ainda é de muita vulnerabilidade.
Com dados do IBGE de 2022, o Brasil possui cerca de 6 milhões de empregados domésticos, dos quais muitos ainda trabalham na informalidade. O caminho atual ainda requer maior fiscalização contra ilegalidades no setor.

“Ainda vivemos à sombra de uma herança escravocrata no trabalho doméstico, e a trajetória de luta continua”, afirma Zica, que também defende a importância da formalização trabalhista e o respeito aos direitos já conquistados.
Motivação Constante
Sobre o futuro, Dona Zica é clara: o engajamento dos jovens nos movimentos sociais é essencial para manter a esperança e construir um amanhã mais justo. Unir forças em torno de causas comuns é um passo vital na construção de uma sociedade equitativa.

Sua mensagem para todos: “A luta política e social é a luta por construção de futuros.”








