De um tempo pra cá comecei a gostar de plantas, já nem sei quantas plantas tenho desde que assumi esse hobbie. Porém a reflexão que quero trazer hoje é sobre sementes. Quanto mais procuro por assuntos politizados, mais percebo que tudo é política e o mesmo vale para as sementes.
A ideia desse artigo surgiu com a publicação do perfil “Clima de Mudança”, uma Organização para preservação ambiental. A publicação em questão começava assim: “Como as frutas sem sementes simbolizam mais uma tentativa… de roubo do nosso futuro?”. Na legenda já diz o tom do carrossel: “A indústria sempre encontra maneiras de nos tornar menos independentes e mais fracos enquanto cidadãos autônomos. Busca sempre apostar no nosso comodismo para retirar, de alguma forma, nosso poder, para que nos tornemos cada vez mais dependentes dela”.
No caso, o diálogo é em torno das frutas sem sementes. E me fez refletir como esse “comodismo” nos aliena politicamente. Afinal, sementes e política tem tudo haver, mesmo parecendo que não. A oferta de frutas sem sementes retira a continuidade dessa fruta, ou seja, essa fruta é mera mercadoria.
Quantas ofertas estão por aí sem “sementes”, sem significado, sem real demanda, que são meras mercadorias?
Não custa muito para surgir uma privatização que transforma algo em MERCADORIA. Já tivemos que dizer que “água não é mercadoria”, “saúde não é mercadoria”, “educação não é mercadoria”, “vidas humanas não são mercadoria”, poderia continuar citando slogans que foram usados em campanhas contra privatização infinitamente, pois de tempos em tempos o que é DIREITO é confundido com MERCADORIA. Considerando que estamos no capitalismo neoliberal, o foco não é a vida, a preservação da natureza ou a garantia de futuro, o foco é alimentar o capital – em outras palavras, acumular mais riqueza (pra quem tem).
Quando entendemos que o direito do coleguinha, também é direito seu e meu, fica mais fácil de se organizar como classe trabalhadora. Ou você tem dinheiro suficiente pra você viver? E para as suas próximas 7 gerações viverem, sem trabalhar? Acredito que não.
Acreditar que só o esforço é combustível para conquistar uma vida mais digna, desculpa, mas é tão ilusão quanto acreditar no Papai Noel ou no coelhinho da Páscoa. Mas tudo bem, crescemos bombardeados por propaganda ideológica, de que tudo é possível, de que os problemas da sociedade podem ser resolvidos individualmente.
Crescemos com contos da carochinha de que “para alcançar bons objetivos, todo esforço vale a pena”, esqueceram de contar que o mundo não é tão simples, afinal como um influencer que vende curso pra ficar rico – e ficou rico às custas desses cursos e não do esforço dele – disse: “não tem pobreza que resista a 14 horas de trabalho”.Então, talvez, se você se matar de trabalhar, bem talvez, você consiga o mínimo de conforto, porque rico/milionário/bilionário, você não fica.
Mas o que isso tem haver com as sementes e com o “plantar” futuro? Bom, se aceitamos essa propaganda ideológica, que é ideologia dominante (leia-se dominante como ideologia neoliberal – de quem tem capital), então estamos fadados a exploração das nossas vidas, sustentando e enriquecendo aqueles que já são mega ricos e ocupam o topo da pirâmide econômica, que não precisam trabalhar, porque o ganho deles vem da exploração da nossa força de trabalho. E com isso, aceitamos que nossas vidas são meras mercadorias, somos descartáveis, logo se somos um “produto”, tudo é produto. Assim como não queremos frutas com sementes, aquele bilionário que tem empresas no Brasil pode não te querer mais também e te manda embora – e dane-se o seu esforço.
Talvez a melhor frase para descrever a vida no capitalismo seja um meme com frase de coach: “Quem acredita sempre se frustra”.
Para que tenhamos um futuro, ainda mais em tempos de crise climática, é preciso plantar, é preciso ter sementes – não mercadoria -, é preciso se unir com aqueles que passam pelos mesmos perrengues que você – onibus lotado, trabalhar como MEI, empreender por necessidade, contar os boletos pra ver se vai sobrar algo no fim do mês. Só a nossa organização como classe trabalhadora pode construir um futuro.