segunda-feira, 24 de março de 2025

Desafiando limites: reflexões sobre cultura, mulheres e escolhas

Cinema e séries de TV sempre serviram como plataformas poderosas para contar histórias que ressoam profundamente em nossa alma. Mesmo sem muito tempo para mergulhar nesse universo ultimamente, algumas narrativas permanecem em minha memória, como marcos de reflexão e inspiração. Uma delas é a série Glee, que não apenas entretém, mas também desafia nossas crenças e nos emociona. Em um episódio particularmente marcante, conheci a música Defying Gravity — um clássico que fala sobre superar imposições e limitações. A história se concentrou em um jovem estudante gay decidido a desafiar todos os “nãos” que impuseram a ele, seja pela sociedade ou pelas pessoas ao seu redor. A música, e o episódio, criam um manifesto poderoso: é chegada a hora de nos levantarmos contra as amarras que tentam nos prender.

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Inspirada por essa lembrança, decidi assistir ao filme Wicked, um musical que explora uma perspectiva inédita sobre a história da Bruxa Malvada do Oeste e sua inimiga, a fada Glinda, antes da chegada de Dorothy no mundo de Oz. Mais do que contar as origens dos personagens, o filme nos convida a reconsiderar o que consideramos “bom” ou “mau”. Muitas vezes, mulheres discriminadas por sua cor, classe social ou escolhas de vida são pintadas como vilãs de suas próprias histórias. Mulheres mães solo, mulheres negras, mulheres vulneráveis — todas aprendem desde cedo a carregar o peso da culpa pelo que é apenas resultado de um sistema desigual.

Como na vida das personagens de Wicked, também enfrentamos limitações impostas. Essas barreiras, muitas vezes invisíveis, refletem preconceitos, restrições sociais e culturais que nos colocam como culpadas por nossas próprias aspirações ou falhas. Para a sociedade, espera-se que as mulheres aceitem o que lhes é dado e não questionem. Deixem que seus pais decidam por elas, que seus maridos controlem seus passos e que a sociedade defina seus papéis. Essa carga é particularmente difícil para as mulheres negras, que enfrentam intersecções ainda mais profundas entre gênero e raça.

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Mas eu acredito no poder de enfrentar esses limites. Estamos vivendo tempos de reflexão, tempos em que somos chamadas a desafiar o que nos impõem e, muitas vezes, aquilo que internalizamos em nossas próprias crenças. No início deste ano, eu decidi não apenas aceitar os desafios da vida, mas também me jogar, me redescobrir e questionar o que me ensinou a limitar meu potencial. É um trabalho interno e externo. Sai de um ano de expiação e agora encaro o desafio de aplicar os aprendizados em 2025.

A ressonância desse sentimento ficou ainda mais clara recentemente, quando uma colega me agradeceu por uma breve conversa que tivemos algum tempo atrás. Ela disse que minhas palavras a inspiraram a deixar o passado para trás e abrir espaço para novas experiências. Para ela, a mensagem foi como um jorro de água, limpando o que não era bom e preparando o terreno para novas vivências. Esse é o tipo de transformação que desejo promover — para mim e para os outros. Olhar o passado, aprender com ele, mas nunca permanecer presa a ele.

Enquanto escrevo essa coluna, não posso deixar de pensar no impacto do cinema, especialmente em tempos de premiação como o Oscar, como a Fernanda Torres em Ainda Estou Aqui ganhar reconhecimento global. A história reflete o que muitos já sabem: a força, a resiliência e a humanidade que percorrem as jornadas de muitas mulheres. Este prêmio, se vier, é mais do que merecido: é um lembrete poderoso do poder de nossas histórias e da importância de continuar desafiando tanto a gravidade quanto os nossos próprios limites.

Encerrando esta reflexão, percebo como filmes, séries e música nos ajudam a superar barreiras, mas também representam realidades maiores e mais universais. Este espaço é parte desse processo de compartilhar, de dizer que estamos juntas, vivendo esses desafios, muitas vezes internas, muitas vezes impostas, mas sempre prontas para recomeçar. A você, que me acompanhou neste texto, lanço o mesmo desafio: reflita sobre o que te limita e, principalmente, desafie!

E fica também minha homenagem a Waguinho, nosso eterno, o Sempre Bem, aquele que desafiava os limites e, muitas vezes, os seus próprios limites. Mesmo quando tudo não tava tão bem, a gente sabia disso, a resposta dele era sempre bem. Porque, às vezes, estar bem ou não estar bem, dependendo das questões externas, são muito mais de como a gente encara estar bem ou não estar bem ou ter problemas ou não ter problemas. Novamente, é como a gente carrega as nossas correntes.

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Cristiane Martins
Cristiane Martins
Mulher, negra, advogada, moradora do Centro de Vitória, Assessora Especial da Secretaria Estadual das Mulheres

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