Todo início de ano letivo traz uma carga de expectativa e ansiedade para mães e pais. É o momento de preparar materiais escolares, ajustar uniformes e organizar a rotina das crianças. Porém, para nós, mães atípicas, essa fase vai muito além dessas preocupações corriqueiras. Infelizmente, a volta às aulas é como assistir a um filme de terror já repetido inúmeras vezes. É marcado pela ausência de algo essencial para nossos filhos: o cuidador.
Embora o planejamento escolar devesse antecipar essas demandas, na prática as escolas, sobretudo as públicas, frequentemente começam o ano sem os profissionais necessários para atender às necessidades das crianças com deficiência ou condições específicas. Assim, nossos filhos ficam desamparados – e nós, angustiadas, enfrentamos o dilema de lutar novamente para assegurar os direitos que já deveriam estar garantidos.
Cada começo de ano traz o mesmo roteiro: mães entrando com ações judiciais para garantir a presença de cuidadores, mães sacrificando seus empregos para ficar na escola até que o profissional seja contratado ou, pior ainda, crianças sendo forçadas a ficar em casa. Enquanto outras mães se preocupam com detalhes mais simples, nós precisamos nos perguntar: “Será que meu filho terá o suporte necessário este ano?”; “Será que a inclusão, tão propagada em discursos, realmente será concretizada na prática?”; ou ainda: “Será que ele será aceito e acolhido da maneira que merece?”.
A inclusão verdadeira vai muito além de permitir o acesso à sala de aula. Ela envolve olhar para a criança de forma integral e respeitar suas particularidades. Uma criança com seletividade alimentar, por exemplo, precisa de atenção específica também no momento da merenda. Se ela só come ovo, então a escola deve garantir que esse alimento esteja disponível. E isso é apenas um exemplo entre tantos outros que poderiam ser citados.
O ambiente escolar, que deveria ser acolhedor e adaptado, muitas vezes se torna adoecedor, tanto para nós, mães atípicas, quanto para nossos filhos. Todos os anos, seguimos os mesmos passos: consultas com médicos para renovar laudos, preenchimento de documentos, idas a órgãos responsáveis – como Conselhos Tutelares ou Ministério Público – para protocolar reclamações. E mesmo assim, nada parece mudar de fato.
Na verdade, o que fica é a sensação de enorme desgaste. Revivemos ciclicamente os mesmos desafios, e a cada início de ano carregamos a angústia de saber que nenhuma solução definitiva foi apresentada. Ainda estamos na luta para que a inclusão saia do papel e se concretize em ações reais.
Por isso, para nós, mães atípicas, a volta às aulas não significa apenas chuva de materiais escolares ou sorrisos nervosos no portão da escola. Ela é, antes de tudo, um momento de sofrimento, incerteza e, muitas vezes, desespero. Que essa realidade mude. Que um dia, nossas preocupações sejam as mesmas que as de outras mães. Que possamos sonhar com um sistema de ensino justo, humano e verdadeiramente inclusivo – não apenas em palavras, mas em atitudes concretas.