Recentemente foi divulgado pela Equal Measures 2030 o Índice de Gênero dos ODS 2024 (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), uma iniciativa da ONU para atingir a Agenda 2030. Você já deve ter visto essa imagem que exemplifica os objetivos desta agenda:
No quesito “Igualdade de gênero”, que é o foco do Índice de Gênero, em escala global as metas estabelecidas não vão ser alcançadas por nenhum país. Um cenário otimista é que o mundo alcance as metas em 2121, ou seja uma menina que nascer hoje pode talvez ver o mundo alcançar igualdade de gênero nos seus 97 anos de idade.
A pesquisa revela que há países com pouco progresso, outros com nenhum e/ declínio. Direitos e avanços foram retrocedidos. No Brasil o progresso foi “pobre”, numa escala crescente que vai de: nenhum dado; muito pobre; pobre; justo; bom; muito bom. O Brasil fica atrás da Argentina, com o governo Milei, que está na escala “justa”.
Vale uma olhada nos gráficos e nos dados principais do Índice, é notável que países no Norte global tem mais avanços, enquanto os países do Sul global contam com declínios ou pouquíssimos avanços.
Se as metas estão além do alcance dos países e 2030 não vai ser o ano das mudanças, quer dizer que essa crise chega só daqui 6 anos? A resposta é bem óbvia, não, a crise já está há um bom tempo rolando. Um exemplo fantástico de que mulheres precisam constantemente ir às ruas lutar por direitos, e até para manter direitos, foram os protestos com a pauta “Criança não é mãe”, que teve aderência no Brasil todo contra o PL da Gravidez Infantil. A nível global a pauta do aborto também é enorme e ganha novos contornos na América Latina, indico a leitura do artigo do El País: América Latina confia nos tribunais para abrir caminho ao aborto.
Para além da luta por direitos reprodutivos, a luta feminista não é só uma oposição a violência contra as mulheres, seja ela psicológica, econômica, política, física ou virtual. Os objetivos se alinham com os das lutas ecológicas, antirracistas e anti-LGBTfóbicos. Mas o que isso tem haver com a igualdade de gênero? Não é atoa que dos países que se comprometeram com a Agenda 2030, 40% destes estagnaram ou declinaram com políticas para avançar a igualdade de gênero. Assim como não é atoa que de tempos em tempos há protestos no mundo todo encabeçados por mulheres, por negros, por LGBTs e por progressistas. Tudo o que foi conquistado de direitos para minorias na história do mundo, foi com muita luta e com muita organização da classe trabalhadora. E chega a ser sarcasticamente cômico, pelo menos no Brasil, que mulheres são uma “minoria”, mas compõem 51,5% da população brasileira, de acordo com o Censo 2022.
O que pode ser feito? Para 2030 e além tem muita luta, pois independente da pauta global, cada país tem seus desafios e jogar ao lado da vida e das minorias – com consciência de classe-, num sistema criado para manter poucos no topo da pirâmide e vários oprimidos por essa estrutura é uma constante mobilização. Vale sempre lembrar que ninguém faz nada sozinho e não tem nenhum heroi pra vir nos salvar, então se informe (Revista AzMina, Gênero e Número, Think Olga) e se mobilize/organize (Movimento Olga Benário Brasil).